Em 1961, fui para o Colégio Culto à Ciência: realização de um sonho
pessoal dos meus pais, que tanto orgulho sentiam em saber que seus filhos
poderiam estudar no melhor colégio daquela época. Éramos pobres e a minha
entrada lá era praticamente impossível, embora o colégio não fosse pago.
Naquela época, estudavam filhos de tradicionais famílias campineiras e da
região, filhos de donos de usina de açúcar, de médicos etc.. Fiz todo o
ginásio, cursei o primeiro e o segundo Científico e, como tivesse dificuldades
em Física e Química, fiz o segundo e o terceiro Clássico. No final, acabei
cursando a Faculdade de Administração de Empresas, me formando pela PUC em
1972. Tive muitas passagens interessantes na minha vida no Culto à Ciência,
mas algumas delas foram marcantes. Uma que me marcou profundamente, foi quando
um ex-aluno famoso visitou a escola e que nos foi apresentado com muito orgulho
pela nossa diretoria. Naquela época, eu sonhava em ser atriz de teatro e
colecionava todos os artigos de revistas e jornais sobre a vida do Carlos Zara.
Consegui me aproximar dele e com o meu impecável uniforme de ginástica todo
branco, que era elogiado por todos pela maneira como a minha mãe cuidava,
cheguei até ele e lhe perguntei como eu faria para entrar no teatro. Ele me
respondeu rapidamente e com um sorriso que eu nunca mais esqueci: “É só
você comprar um ingresso.”. Senti muita vergonha na presença de outras
pessoas e deste dia em diante, perdi a minha ilusão de ser atriz. Rasguei tudo
o que tinha colecionado sobre a vida do Carlos Zara. O tempo passou e eu acabei
entendendo a sua resposta e continuei à admirá-lo. Outra passagem foi a
primeira vez em que enforcamos aula e eu chorei muito porque não queria ir.
Saímos escondidos do colégio, no assoalho da perua Rural Willis do Anuar e
fomos tomar chopes no Bavária, em frente ao cine Ouro Verde, na Rua
Conceição. Só chorei nesta vez, pois acabei descobrindo que era bom e
emocionante enforcar aulas. Fizemos uma viagem inesquecível à Caverna do Diabo
mas não me recordo do ano. A turma era do Morey, Amadeu Tilli e outros tantos.
Só me lembro que o Morey levou lanches e eu acabei escrevendo uma poesia para
ele. Lembro de uma vez ter chamado a Regina Duarte em sua classe, à pedido do
seu marido, na época seu namorado. Ela não estudava na minha classe, mas
estudou numa mesma época. A minha primeira paixão de adolescência foi o
professor Biojone, a quem eu amava, vamos assim dizer, platonicamente. Só eu
sabia. Era o meu ídolo. Uma vez, derrubei da muleta uma colega de classe que me
chamou de puxa-saco da professora de Latim, dona Zilda Rubinsky. Ela rolou
escada abaixo e eu não consigo lembrar do que aconteceu comigo depois desta.
Lembrando do professor Samuel, a dona Zilda conseguiu que ele me desse aulas de
desenho, porque eu não conseguia acompanhar as aulas do professor Inácio. Aí,
consegui melhorar bastante. Eu, na minha primeira prova de Latim, tirei 0,5.
Dona Zilda me colocou para ter aulas de reforço com a Sônia Kauppert e eu
melhorei muito meu Latim ficando com notas muito altas. Minha mágoa é não ter
conseguido guardar minha primeira poesia, quando recebi um elogio do professor
Alexandre. A
partir daí, comecei a escrever. Uma vez, o Amadeu Tilli me levou à
casa da Hilda Hilst, juntamente com meu caderno de poesias e ela gostou muito.
Pena que eu não tenha conseguido guardar nada daquela época. Eu morava no
bairro Ponte Preta e ia à pé para o colégio. Na volta, quase todos os dias,
coincidentemente, eu estava no caminho da dona Zilda, que tinha um Renault
Dauphine (nem me lembro como se escreve). Ela saía da escola com os filhos (5)
e com a cachorrinha pequinês Kitty e ainda me dava carona, pois eu morava
próximo de sua casa. Quase todos os dias o guarda nos parava; dona Zilda estava
sem os documentos e a cachorrinha queria morder o guarda. Dona Zilda ainda dizia
por que o guarda a parava, se sabia que ela nunca trazia os documentos! Quando
eu tinha oportunidade de estar em sua casa, eu sempre lhe pedia para tocar
“Sonata ao Luar”. A Sonia (hoje pianista famosa nos Estados Unidos) deveria
ter uns quatro anos e também já tocava piano com muita graça e classe. São
muitas as recordações pois afinal foram oito anos passados dentro do colégio.
Foi uma vida que se passou e agora nesta comemoração de 125 anos a mim parece
rever um filme em preto e branco, com uma emoção sem palavras para defini-la.
Marina de Oliveira – turma de 61-68