Estava esperando que alguém contasse, mas como até hoje
ninguém se
atreveu, aqui vai: foi em 68, 1º Clássico. A grande miss Fobê, no primeiro
dia de aula, dá como trabalho, para ser entregue no fim do ano, várias peças
de Shakespeare. Cada equipe faria o que quisesse com elas. O Amadeu Tilli, que
já fazia teatro (tinha até participado de uma novela na TV Tupi), não deixou
por menos e resolveu apresentar mesmo uma das peças. A escolhida foi Othelo e,
para compor o elenco, tivemos de juntar duas equipes. Fobê, que a princípio
duvidou que conseguíssemos, percebendo nosso entusiasmo, também se
entusiasmou. Foram meses e meses de ensaios, com o Amadeu ensinando a gente a
ser, pelo menos um pouco, ator. O texto da peça era um desses livrinhos de
bolso. Tilli se imcumbiu de
adaptar
o texto à nossa total ignorância de
teatro, cortando (meu Deus!) frases e mais frases do bardo inglês, mas de modo
que a trama do terrível Iago acabando com o romance de Othelo e Desdêmona
ficasse, digamos, quase intacta. Eu fui Brabâncio, o pai da donzela. Tilli,
claro, foi Othelo, pintando o rosto e a mãos de preto, para ficar igual ao
mouro. Marisa Lage, louríssima à época, foi Desdêmona, tendo de renunciar,
pelo menos no palco, às incríveis minissaias que ela usava na classe (ai!).
Como faltava homem no elenco (faltava no bom sentido, claro!) a Lúcia, então
minha namorada, fez o Dodge de Viena. O Hipólito era o Iago e muitos outros e
outras trabalharam na peça, que teve de ser apresentada fora do Culto, pois
havia muita gente interessada em vê-la. Requisitamos o teatro da então
Secretaria de Educação e Cultura, localizado na Avenida da Saudade, que teve
seus 400 lugares totalmente tomados. Cenários imitando Veneza, trilha sonora
tirada da vasta coleção barroca do Tilli, a gente vestido a caráter,
nervosismo total nos bastidores, todas as famílias dos metidos a atores
presentes. E no fim, aplausos, muitos aplausos que se misturaram às lágrimas
tanto na platéia quanto no palco. A coisa foi tão boa que Miss Fobê deu 10
para todo mundo e às vezes conta essa história até hoje em palestras que a
querida mestra dá por aí. Valeu Fobê! Valeu turma!
Edmilson Siqueira
– turma 63-70.