Estudar no Culto à Ciência
era um sonho, primeiro pela fama de melhor
escola da cidade, depois, sempre gostei de desafios e o exame de admissão era
dos mais difíceis, e, por fim, havia a principal razão de tentar passar no
Ginásio do Estado: econômica. Explico: trabalhávamos numa chácara, na
Fazenda Chapadão, onde produzíamos muitas verduras, frutas e flores,
mercadorias vendidas por meu pai nas feiras. Tínhamos, também, uma bela criação
de porcos que, além de fornecer carne e banha para consumo familiar,
havia as leitoas vendidas na época das festas, aumentando a renda, que não era
grande suficiente, apenas para se levar uma vida remediada, trabalhosa, mas
muito sadia. Assim, tornou-se um objetivo de minha parte estudar grátis
no
Culto à Ciência. Munido de tal propósito, matriculei-me no curso de admissão
da dona Yolanda. Foi uma rotina diária: pela manhã, quarta série primária,
no Castorina Cavalheiro, e na parte da tarde, curso de admissão. Finalmente
chega dezembro e os temidos exames. Fui eliminado de cara pela prova de
Português do professor Sampaio, mas tive mais sorte na segunda tentativa e, em
março de 53, me apresento com muita ansiedade para o primeiro dia de aula no
sonhado Culto à Ciência, onde estudei até 58, me transferindo para um
colégio mais fraco, afim de poder me preparar melhor para o vestibular no
último ano do Científico. Digo com sinceridade que passei um dos melhores
períodos de minha vida no Cultão. Com muita saudade, leio as histórias dos
colegas que também por la passaram. Saudade dos tempos de pouca
responsabilidade, muita camaradagem e amizade. Saudade dos intervalos das aulas,
quando nos reuníamos no campo de futebol, para jogar conversa fora, sempre
movendo de um lado para outro, evitando, assim, as brincadeiras mais violentas,
como a conhecida na época como cama-de-gato, que quase me causou um deslocamento
de ombro. Saudade do bar do Alo, sua esposa dona Jeanete e sua simpática filha,
que serviam um saboroso sanduíche de mortadela. Lembro-me claramente da face de
muitos colegas, mas os nomes me somem da memória. Com alguns mantenho contacto
pessoal ou através de familiares. Dentre estes, cito Antônio Fernando
Magalhães; Antônio José Luporini, tragicamente levado pela violência; Mauro
Freitas Leitão; Márcio Ribeiro; Márcio de Campos; João B. Piovesan; José C.
P. Tobar; Kussama; Picolloto; Honório Chiminazzo; Feliciano C. Passos; Eder V.
Ferreira; Joaquim C. Nascimento; Hélio S. Teixeira; Fernando B. H. de Melo; o
turco Feres; Massami Katayama, colega desde os tempos de admissão da dona
Yolanda até os bancos da faculdade, no Rio de Janeiro -- inclusive escolhemos a
mesma especialidade. Infelizmente, o amigo Massami já
não se encontra entre
nós. Aos mestres, gostaria de deixar aqui meus sinceros agradecimentos, afinal
foram eles que com muita paciência, disciplina e dedicação, nos ajudaram a
forjar nosso caráter e nos transmitiram
os conhecimentos que nos guiam pelos
meandros da vida. Novamente, a memória me falha, mas me lembro do professor
Stucchi; dos Lusíadas, do professor Sampaio, muito rígido na nota, mas um
grande coração; professor Hilton, com seu “reino” de Geografia, na sala 10,
sempre impecavelmente limpa; professor Lívio, alma bondosa, com o teorema pé
de galinha e sua expressão
“Mochinho”; professor Basílio, que caminhava diariamente
para dar aula; professor Benevenuto Torres; Ignácio Landell; dona
Auzenda; Maria Estela, sempre alegre, de bem com a vida, com o seu carrinho
prateado; a simpática e charmosa Maria Helena Valverde; Eclair; Ancila; Maria
de Lourdes Pimentel, muito séria, “but very classy”. Dentre os
funcionários; não poderia deixar de mencionar sr. Dario e sua esposa dona
Maria; dona Gladys Pierre, cantora de ópera; sr. Cardamone; sr. Carpino; dona
Celina Mesquita; dona Angelina; dona Olga, cujo apelido deixo de mencionar
em
respeito à sua memória e à sua família. Longe que estou, com muita tristeza
comunico que não poderei estar na festa do dia 21. Mais frustrante
ainda é
lembrar que há poucos dias, estive aí em Campinas, porém garanto que no
Sábado, meus pensamentos estarão voltados para este magnífico acontecimento.
Finalizando, gostaria de sugerir à comissão, que no início das festividades,
faça um pedido de um minuto de silêncio em homenagem aos professores, colegas
e funcionários que já
não se encontram entre nós. Muito obrigado.
Diotoko Kiam -- turma de 53-59