Eu me formei em dezembro de 1979 e em março de 1980, foi meu primeiro dia de aula no Culto à Ciência, no primeiro colegial noturno. Tive muito cuidado ao vestir-me, colocando um conjunto com “saia envelope” (última moda) e salto alto. Ao chegar à classe, cumprimentei os alunos, sentei-me e puxei a cadeira para junto da mesa. Só então descobri que esta era fixa (a famosa pé de elefante) e quem foi para debaixo da mesa fui eu. Fiquei só com os pés para fora. Fez-se um silêncio geral. Um dos alunos (que se estiver lendo gostaria que entrasse em contato), o Aparecido, foi até a mesa e perguntou se estava tudo bem. Respondi que não, pois não sabia como olhar para a classe se saísse dali. “Vem professora, eu te ajudo.” E eu: “Não quero sair daqui.” Ele: “Mas professora, você precisa sair, a gente nem te conhece.” Com a ajuda dele, levantei-me senti-me ridícula. Estava com as costas doloridas (as vértebras deslizaram uma a uma no assento da cadeira), com a saia toda torta, os cabelos desalinhados e os alunos se segurando par não rir. Tive um acesso de riso e as gargalhadas tomaram conta da classe, que acabou sendo a melhor classe com quem trabalhei naquele ano. Permaneci nesta escola por oito anos, dando aulas de Educação Artística. Muitos episódios ocorreram neste tempo, alguns tão engraçados quanto este e meus alunos devem recordar-se (se sim, por favor, me contatem). Com as meninas do Magistério da manhã, fizemos uma dança e a Andréa, em vez de bater os cocos enfeitados, fez um biquíni e acabou com a dança, dando um show à parte. Essa mesma turma deu-me de presente, no dia dos professores, um par de pernas-de-pau de cerejeira com ponteira de borracha (quer presente mais original?). Quando fizemos apresentações de teatro, precisávamos de uma caveira, pois um dos meninos imitava o “Bento Carneiro” e o professor Ari (Física) nos emprestou a que usava no consultório. Passamos um apuro danado para devolvê-la, pois os pestinhas começaram a jogar a caveira e seus dentes (que eram só encaixados) caíram. Logicamente, não foram encontrados todos. Com o pessoal do noturno, num dos ensaios, estávamos trabalhando com mímica e dois meninos fingiam jogar ping-pong com um chaveiro que fazia barulho igual ao da bolinha batendo na mesa. E a gente acompanhando com os olhos. O senhor Renato (diretor da época) chegou e ficou olhando, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Um dos meninos fez que deixou a bola cair e foram procurá-la... E o senhor Renato foi ajudar, achando que havia bolinha mesmo. O riso foi geral, ele ficou todo sem graça, mas acabou rindo com a gente, por que foi muito engraçada a cena. Em outra apresentação, roubaram meu sapato e tive de ir embora descalça. Por falar em sapato, o professor Euclides era perito em esconder meus sapatos atrás do quadro de avisos da sala dos professores. Zezé Oliveira