O professor Lívio não conseguia dar aula sem ter nas mãos, o tempo
todo, o seu compasso de giz (sem o giz). Era um apoio, um cacoete, sei lá, mas
era isso. Ele falava batendo com o compasso na coxa, alcançava o sapato com o
compasso aberto, gesticulava com aquilo como um maestro com sua batuta e ele
abria o compasso com uma mão só, exatamente igual a um pescador quando faz
aquele movimento com a vara para arremessar a linha. Vupt! E o compasso se
abria. Aquele compasso era o seu amigo inseparável. Nossa sala, no 1º CtB, era
a primeira à direita, logo entrando no prédio principal. Tinha daquelas portas
duplas, que primeiro se fecha uma das abas, com aquele trinquinho em cima, que
se empurra e depois dobra pro lado. Aquela aba de trinquinhos ficava sempre
fechada, mas, um dia, seo Lívio chegou para a aula e ela estava aberta. Ele
não deu importância e fechou a outra parte da porta, sem travar a primeira.
Só que havia um ventinho que fazia aquela porta ficar balançando, até se
abrindo um pouco. Ele resolveu fechá-la. Vocês se lembram da altura da porta?
Pois é, como ele não alcançava o trinquinho para empurrar, viva!, o compasso
também serviria para aquilo. Abriu o compasso, encostou aquela ponta que tinha
o furo para se colocar o giz (uma ponta com quatro cortes laterais para a
adaptação do giz) e forçou o trinquinho. O trinquinho não saiu do lugar, mas
a ponta do compasso se abriu em quatro pedaços, exatamente como uma flor
desabrochada de quatro pétalas. Guilherme Nucci