O ano era 1967, cursávamos o 1º científico . Turma super unida,  a maioria junta desde a 1ª série . O professor de Português era o prof. Sabino. O assunto do momento era Literatura Portuguesa e, óbvio , Camões.

Ao invés de aulas sobre “Os Lusíadas ” , ele decidiu dividir a classe em grupos , sendo que cada um deveria apresentar um trabalho sobre um dos Cantos .

Fomos sorteados com o Canto III ( É aquele que contém: ...”Estavas, linda Inês, posta em sossego ...”).

Ficamos enrolando vários dias ( como era de praxe ..., para depois fazer tudo na última hora ou , então , pedir para adiar a entrega ).

, sem mais nem menos , eu resolvi  que fazer um trabalho escrito seria muito sem graça ( eu gostava de  inventar moda ” ).

Por que não um roteiro teatral ? pensaram, que diferente , que interessante!?!?

Insegurança no grupo : Como fazer ?  O que vamos inventar ? Será que vai dar certo ? Será que vai agradar ? Será que não vai dar muito trabalho ? E eu defendendo minha idéia com unhas e dentes . Pode  deixar que eu cuido, pode deixar que eu faço o roteiro , pode deixar que eu assumo!!!

Realmente eu fiz boa parte do trabalho : o  roteiro preliminar , as reuniões em minha casa ( ríamos horas e trabalhávamos um pouquinho... ); mas , depois , todos se envolveram  e  participaram bastante .

Estou fazendo um certo suspense sobre quem fazia parte do grupo . É esse o problema ... Não me lembro de todos !!!! Os que eu não citar , me perdoem e escrevam para o site , para corrigir o “ pecado ”!.

Que saudades sinto lembrar daqueles amigos tão queridos !!!!  A Mércia Lídia Rondini,  Carola Dobrigkeit, Álvaro Paschoal Filho , João Armbrust Neto , Nelson Boccato Jr, acho que a Cristina Teixeira da Conceição, e...

A  idéia “decolou”!!! Distribuí cópias do roteiro ao grupo . Foi aprovado de cara . Durante os ensaios , fomos aprimorando, cada um dava um palpite , queria melhorar sua fala .

Enfim, ficou pronto!!! E bárbaro!!! Seria a encenação ( comédia!! ) de uma aula de Literatura Portuguesa, o assunto seria “Os Lusíadas – canto III , com o professor  fazendo perguntas para a turma.

Chegou o dia da apresentação, foi na  sala de Física, do prof. Moacyr. Havia uma porta entre a sala e o laboratório de Biologia/Ciências, vocês se lembram?

Pois nós colocamos um rastilho ( pra  falar a verdade, com medo de ficar “mixuruco”, fizemos um “rastilhão” de pólvora sob essa porta ).

 Aí, o espetáculo começou. O “professor”  ( Álvaro Paschoal ) estava  dando uma aula sobre o Canto III dos Lusíadas. E fazia  perguntas para os alunos.

Tipo: -  Fulana  (eu) , faça um breve resumo do Canto III. – Fulano, o que Camões quis dizer com isso? - E com aquilo? - Qual é o sujeito da frase tal? - Que figura de linguagem foi usada em tal verso?

E, em meio às perguntas e respostas, a comédia ia rolando ...

Acontecia  de tudo nessa aula. Tinha aluna sabe-tudo ( acho que era a Carola) que  acerta a 1ª e não pára mais de levantar a mão, desesperada para responder. Tinha aluno(a)  burro(a), aluno que disfarça muito, olha para o chão, vai apontar lápis, para não ser chamado. Uma aluna que, em certo momento, foge pulando um daqueles janelões ( para imitar um fato verídico acontecido ali, naquela sala, protagonizado pela Mirian Schifferli Hoff, da turma de 66, creio... ), e começa a gritar : - Quebrei a perna !!! Tinha uma  duplinha que não pára de conversar, aluno lendo gibi pornográfico aberto dentro do livro; alguém pede para ir ao banheiro...

Bem, voltando um pouco... Tivemos um problema no início dos trabalhos  porque, é lógico, tinha que  ter o Camões  e  ninguém queria ser o Camões, já que ele teria que se  apresentar vestido a caráter ( o “a caráter” possível para nós seria uma meia branca de ballet !!!!,  com as pernas  aparecendo inteiras, sapatilha com bico comprido, uma camisa curta , aquele negócio cheio de babados no pescoço e um tapa-olhos, tudo emprestado da Cia de Teatro do Amadeu Tilli,,,) Porque será que ninguém queria, não é?!

Não sei como o problema foi contornado, se foi com muita insistência, se foi sorteio. Só sei que o Armbrust, a contragosto, assumiu o papel. E fez um Camões magistral!!

Num determinado momento da aula, que estava realmente muito engraçada,  a aluna burra responde uma das perguntas com uma besteira inaceitável!

Nessa hora eu tinha  que falar: - Ai, meu Deus! Camões deve estar dando voltas na tumba ao ouvir isso!!!!

Eu consegui falar direitinho, mas tive que rezar muito, porque ,nessas situações, geralmente eu tinha ataques de riso convulsivos ,que duravam horas.

Assim que eu terminei a frase, alguém foi lá, pôs fogo na pólvora, a porta se abriu ( com um pontapé!!! ) e o “ Camões” apareceu , no meio da fumaça, com aquela roupa ridícula, e disse:  - Acordei do meu sono secular ....

Só que  a fumaça foi tanta, mas tanta, que todo mundo começou a lacrimejar e rir, e chorar , tudo ao mesmo tempo, inclusive o Prof. Sabino. Abrimos porta e janelas, abanamos, mas não houve jeito, tivemos que abandonar a sala e ir para o pátio. A peça ficou sem terminar...

Enfim, para abreviar esse “causo” tão longo...Fizemos uma reapresentação, com toda a pompa,  com convidados especiais : Dr. Telêmaco, Da. Celina Duarte, profa. Zilda Kaplan, não tenho certeza se profa. Quinita, alguns funcionários ( o Dr. Telêmaco selecionou.) Nota dez para o grupo e assunto para uma semana, no mínimo!!!!

Ah! Detalhe importante. Dessa vez foi um rastilho bem fininho...   Cristina Blaya -  turma de 1969