Seu Hilton, pra quem ainda não sabe, era professor de Geografia e tinha
uma sala exclusiva, a sala 10, que ficava no antigo pátio das meninas. Mas,
acima de tudo, seu Hilton era um bugrino, desses de ter um fusca verde e de até
o quadro-negro da sala 10 não ser negro e sim verde. Acho que foi em 63 ou 64,
o Guarani vinha bem no Campeonato Paulista e enfrentou o todo-poderoso Santos
num domingo. O jogo foi no Brinco e o Bugre perdeu de um a zero, gol de Pelé.
Só que no segundo tempo, um zagueiro do Santos cortou um passe dentro da área
com o braço. Pênalti claro que o juiz não deu. Na segunda-feira, a primeira
aula, 8 da manhã, era com ele. Como já sabíamos que seu humor oscilava de
acordo com os resultados que o Bugre conseguia no campeonato, a classe estava um
silêncio só, esperando uma chamada oral ou uma bronca geral por qualquer
motivo. Na certeza de que o professor estava muito mais bravo, ficávamos num
silêncio mortal. Ele chegou, sentou em sua mesa, mexeu nuns papéis, arrumou
tudo direitinho e a classe mais parecendo um velório. Ele encarou a classe, de
cara fechada, por uns cinco minutos. Quando todo mundo já começava a ficar
incomodado com o silêncio, eis que ele esbraveja: “Quer dizer que agora pode
botar o braço na bola dentro da área que não é pênalti
???”
Edmilson
Siqueira