Ceará e eu fizemos a segunda série juntos. Era a 2ª B, no fatídico ano de 1964. Logo no começo de março, decidimos, ele e eu, enforcar as aulas. Como éramos marinheiros de primeiríssima viagem, ficamos por ali pelo pátio, em frente ao Bar do Alo, sem saber o que fazer, já que os portões, assim que tocava o sinal, eram fechados. Íamos enforcar as aulas, mas não tínhamos feito o óbvio, que era sair do colégio antes do sinal de entrada... E agora? Ficamos olhando todo mundo ir para as salas e nós dois ali, resolvidos a não entrar. Só nos restava como alternativa para sair do colégio pular o muro do campo de futebol. E lá fomos nós. Pra quem não sabe, ao lado da pista de atletismo que circundava o campo, o terreno declinava e terminava num muro alto, último obstáculo para a liberdade da Delfino Cintra, uma rua ainda de terra naqueles tempos. E lá fomos nós: atravessamos o campo, descemos o barranco e escalamos o muro. Nossas camisas brancas ficaram marcadas pela escalada, sem contar o tombo que levamos para chegar ao chão da Delfino Cintra, sujando também nossas calças cinzas e os livros e os cadernos. Era o mês de março de 64 começando. E a gente nem desconfiava que o fim do mês ia ser muito, mas muito pior... Edmilson Siqueira – turma 63-70