Estávamos no dia 2 de abril daquele famigerado ano de 1964. Tropas
deslocavam-se do Rio Grande do Sul rumo a São Paulo, do Rio de Janeiro em
direção a Brasília... As emissoras de rádio só transmitiam marchas
militares e hinos patrióticos, informando que o presidente fora deposto e que a
situação no país era de calma e tranqüilidade. Como as notícias correm,
ficamos sabendo, mesmo antes de entrar em aula, que alguns colégios haviam
suspendido as aulas, evitando, assim, aglomerações. E por que nós, alunos do
mais conceituado e politizado colégio de Campinas, o Culto à Ciência,
tínhamos de assistir aulas? Tudo errado. Tocou o sinal e começou o
diz-que-diz-que. Entraríamos em aula ou não? A turma do jornal (Factum,
que já iria para o ano II) se juntou na escadaria que dava acesso às salas em
cima do porão e bradamos (Paschoal Destro, Nelsão Prado Fernandes, Massatosi,
Romeu Montaldi, Donaldo “Patão” Jorge Filho, Tercílio Dimarzio, Sérgio
Carneiro, eu, e talvez mais alguém que, passados 34 anos, não me recordo)
nosso grito de guerra: “Só entraremos em aula se João Goulart voltar para o
governo!” Bem, como a vontade era realmente que não houvesse aula, o coro foi
de imediato engrossado pela grande maioria e não subimos para as salas de
aulas, até que, com toda aquela delicadeza, apareceu dona Celina Mesquita.
Identificando de imediato os cabeças, conduziu-nos gentilmente à presença de
nosso estimado Diretor (Telêmaco), que além de nos passar um sabão, também
nos enxaguou (ao pé da letra), nos ameaçando com expulsão do Colégio e tudo
o mais. Claro que não passou de ameaças! E assim ficou conhecido o Movimento
Estudantil Revolucionário Dois de Abril (M.E.R.D.A.), comemorado sempre no
aniversário de Patão, 31 de março (mera coincidência). Layrton
Moretti Junior – turma - 1968