Corria o ano de 1957 ou 58, e naquela manhã a nossa professora de Português, dona Maria de Lourdes, estava impossível. Ela cismou de fazer uma chamada surpresa valendo nota: análise sintática dos Lusíadas. O José Herculano Vicente, o mais c.d.f., estava branco de medo, o João Herman Neto suava em bicas. O pessoal da minha turma tentava desesperadamente sair da classe e a professora não autorizava. Não tive dúvidas: esculpi com meu canivete um pedaço de giz, transformando-o em um comprimido. Chamei o meu colega do lado e contei o meu plano de mostrar o remédio falso e sair. Assim, o remédio passou da mão do Ícaro Bozza à do José Mércio Xavier, Silvio Rezende, Marcelo Pompeu de Camargo, Souzão, Vadô, Cruvinel, Sérgio Bastos, Paulo Fonseca, Miguel Lofredo, João Ferreira da Cunha Filho, Ricardo Badaró, José Orlando de Figueiredo, Regazzini e outros. Em poucos minutos, a classe já sabia da história. No momento certo, muni-me de coragem e levantei a mão. “Sim, mocinho?”. “Está na hora de tomar o meu remédio, posso sair?”. “Pode.”, respondeu Dona Maria de Lourdes. Levantei-me e saí aliviado. Eu nem precisei mostrar o falso remédio. Tinha sido fácil demais. Frustado, voltei até a porta da sala de aula e disse: “Dona Maria de Lourdes, o remédio está na palma da minha mão, olhe!”. “Chegue mais perto”, disse ela, “quero ver esse remédio.”. Aproximei-me e entreguei o comprimido em suas mãos. “Isto não é remédio, é um pedaço de giz!”. “Céus! Alguém trocou o meu remédio!”, disse surpreso, com a maior cara de pau. A classe toda riu. “Agora, eu vou chamar o Sr. Lauro e você vai explicar tudo isto na Diretoria.”. Resultado: três dias de suspensão. Jader Ricci Prado – turma -1956 a 61