Corria o ano de 1960 ou 61, quando a nossa turma percebeu em sala de aula que algo importante iria acontecer no sábado à noite com a turma do Frank Dawe, irmão da bela Marjorie. Resolvemos investigar e descobrimos que os cochichos referiam-se à festa de aniversário do Frank. Informaram-nos que haveria um baile e o traje seria paletó e gravata e a apresentação de convite, obrigatória. A nossa turma, que era rival, planejou uma reunião no Café do Povo e de lá, em comitiva, iríamos até a casa do Frank -- afinal também éramos colegas de classe. Faziam parte de nosso grupo os colegas: Ícaro Bozza, Sílvio Resende, José Mércio Xavier, Paulo Fonseca, primo das belas Sílvia e Lúcia Belchert, Neizão o “Bimbão”, Zé Prestes, Jônio o “Murras”, Sérgio Bastos, Serginho, Miguel Lofredo, primo da bela Ítala, João Ferreira da Cunha Filho e outros da classe e tantos outros habituèes do Café do Povo, arregimentados na hora. Chorávamos de rir, só de imaginar a cara dos meninos à frente deste exército de paletós e gravatas. Quando lá chegamos, vimos com surpresa que já haviam puxado o nosso tapete. Pelos jardins da casa do Frank, circulavam casais vestidos em trajes havaianos. Os rapazes vestiam camisas de mangas curtas floridas, calças claras e sandálias havaianas nos pés (grande novidade na época). Mas mesmo assim, colocamo-nos em frente ao portão e chamamos pelo Frank, que sumira dentro de casa. O Vieirinha apareceu ladeado pelo Luís Sérgio Toledo e disse: “Boa noite pessoal! Vocês trouxeram os convites?” Um a um colocou a mão no bolso do paletó e respondeu: “Puxa vida, esqueci em casa!”. Quando o Vieirinha percebeu que não conseguiria conter o grupo no portão, chamou o Lúcio Patterno, o Plaster e o Ferreira Jorge, irmão da bela Camila. Explicamos aos colegas que levaríamos os convites na Segunda-feira em classe. Assim, entramos e fizemos a costumeira fila para abraçar o aniversariante, que ficou um tanto desconcertado. Logo, tiramos as moças para dançar, pois agindo pelas nossas regras, sabíamos que, mais difícil ficaria nos mandarem embora, pois o aniversariante não iria se expor ao grande embaraço de retirar alguém que estivesse dançando com uma dama convidada. Depois de algum tempo, percebi que a estratégia não dera certo. O pai do Frank, lentamente e em voz baixa, falava com um a um e, em seguida, eles se retiravam. Eu era o último e resolvi vender caro a minha saída. Eu fiz o velho caçar-me pela pista de dança, eu ia para o centro, que estava bem apertado, e quando ele lá chegava, eu girava para a borda, depois para a esquerda, para a direita, para o centro novamente, hora em ritmo de samba, hora em ritmo de chá-chá-chá, até que a música parou e o pai do Frank, com seu cachimbo na boca, me disse em seu Português americanizado: “O senhorrr non poderr ficarrr. O senhorrr non estarr vestidou ao caracter e non ser convidadou, OK ?”. “OK!”. “O senhorr ter toda razon.”. Quando eu saí, o meu pessoal me saudou com palmas e vivas pelo meu recorde de permanência na festa. Prometemos um ajuste de contas à turma do Frank, mas isso, claro, nunca aconteceu. Só ficou nas caras feias e nos punhos fechados em riste. Um forte abraço à minha e à outra turma; juntos, fomos grandes parceiros em felizes momentos de nossas vidas. Amigos para sempre! Jader Ricci Prado