A experiência que o doutor Telêmaco passou com a turma anterior, no final de 1974, tinha sido muito dura. Eles queriam fazer um futebol fantasiados, mas o diretor, logicamente, não permitiu. Mas para evitar que novamente o colégio fosse parar na polícia, muito bem lembrado no “causo” do Fernando Braga Alves, a turma de 1975 conseguiu convencer o dirigente de que seria muito melhor que o futebol fosse realizado com sua permissão -- e que a tradicional guerra de ovos e farinha acontecesse dentro dos muros da escola. Ele pensou: “Já que não consegui evitar a bagunça, que ela seja aqui dentro, longe das ruas... e da polícia”. Bem, havia um colega que se transferiu para uma escola muito mais fraca no 3º colegial, para fazer cursinho preparatório para o vestibular e não ter que se matar para passar de ano no dificílimo “Culto à Ciência”. Mas no dia do futebol, ele estaria lá. Afinal, havia estudado no ‘Cultão” desde 69, e só havia saído no último ano. Achava-se com direitos iguais aos que tinham continuado. E assim, no dia acertado com Telêmaco, lá estava ele, armado com dúzias de ovos e sacos de farinha quando foi barrado pela temida Sônia, professora de Matemática. Telêmaco, por motivos óbvios, a havia designado para trabalhar como porteira na entrada do “Alberto Krum”. “Você não pode entrar; você não é aluno do colégio, a festa é só para alunos.”. “Mas como não sou aluno, estudei aqui por seis longos anos e você vem com essa?”. “Você não pode entrar, você pode...” e apontou para mim, permitindo minha passagem. “Ah é? Então não posso entrar?”. Ao mesmo tempo, começou a se armar com alguns ovos na mão direita e um bom punhado de farinha na esquerda. Quando comecei a atravessar o portão, só consegui ver os ovos indo diretamente para o rosto da Sônia, que ficou atônita, removendo gemas e claras dos olhos, rosto meio abaixado, e logo depois, um saco inteiro de farinha estourou em sua cabeça. Antes de sair em disparada, nosso colega, ou ex-colega, sorria com ar do triunfo. Afinal, não iria participar da festa com os amigos. Mas havia deixado para sempre sua marca na história do Culto à Ciência. Márcio Schwartzmann