Recordações do "Noturno"

                                                                                                           Sérgio de Pádua Iatchuk

 

Foi com um misto de emoção e de saudades que descobri esta página da Internet tão bem estruturada e documentada sobre o nosso querido Culto à Ciência. No afã de rever antigos mestres e companheiros passei horas e horas em frente à tela do computador e, sem que percebesse, foi-se a madrugada. Ainda que não tenha encontrado muitas referências com relação à minha turma e aos meus ex-professores, devo confessar que senti um imenso prazer em poder mergulhar-me por horas a fio na história deste que foi um dos mais importantes colégios do país. Foram tantos os relatos interessantes que li, que me senti estimulado a escrever algumas linhas.

Fui aluno do Culto à Ciência no período de 1962 a 1964, no colegial noturno. Tão logo concluí  o curso científico mudei-me de Campinas perdendo totalmente o contato com ex-colegas e ex-professores. Neste longo período que se passou da conclusão do colegial até hoje, jamais tivera a oportunidade de ouvir falar no nosso antigo colégio. Felizmente, com a dedicação e obstinação de pessoas como você,  e com o auxílio deste incrível recurso que é a Internet, podemos hoje avaliar a imensa riqueza que deixamos para trás e lançar um olhar saudoso a tudo e a  todos que um dia foram tão importantes em nossas vidas.  

Pouquíssimos foram os momentos de descontração vividos na escola durante os três anos em que tive o privilégio de estudar no Culto à Ciência. Se, por um lado, muitos dos alunos já chegavam ao colégio cansados de suas jornadas de trabalho e às voltas com problemas extra-escolares (eu, inclusive), por outro, praticamente inexistiam atividades sociais e esportivas para as turmas da noite, dificultando enormemente a integração aluno-aluno e aluno-escola. A repetência e a evasão escolar eram muito elevadas, e pouco a pouco os colegas iam desaparecendo da escola. De duas turmas completas do curso científico em 1962 restaram, se muito, uns quinze alunos no terceiro científico em 1964. Aos meus olhos adolescentes, a visão noturna da escola, com seus pátios e corredores mal iluminados e com suas salas sombrias e quase desertas, não se traduzia necessariamente em algo agradável. Além disso, a comunicação entre aluno e escola era, de certa forma, difícil, caracterizando-se por uma enorme distância entre mestres e alunos.  Foi neste contexto que cursamos e concluímos o curso colegial noturno, sem que estabelecêssemos com colegas e professores laços de amizade mais duradouros, sem que houvesse confraternizações, agradecimentos, abraços de despedida, fotos  e troca de endereços. Tenho certeza, pois, que esta parte da história do Culto à Ciência não será nada simples de ser reconstituída.  

As dificuldades enfrentadas e o longo tempo transcorrido até o presente não foram suficientes, entretanto, para esmaecer as preciosas recordações que guardamos de nossos mestres e a gratidão que sentimos por este centenário colégio. Se é verdade que muitos de nós, alunos, chegávamos ao colégio já exaustos, não é menos verdade que os professores também chegavam cansados e sobrecarregados por suas obrigações profissionais, pelos seus compromissos financeiros e pelos seus problemas familiares.  Mas, por mais preocupados que se encontrassem, por mais cansados que estivessem, jamais deixavam que isto transparecesse,  jamais demonstravam desânimo ou desconforto, movidos que eram por inabalável combatividade e idealismo. Exemplo marcante para mim foi o do inesquecível mestre  José de Almeida, a quem, apesar da idade e da dificuldade em se locomover, nada parecia abater-lhe o ânimo e o entusiasmo com que conduzia suas aulas e experiências de química. Pela dedicação, competência, dignidade e espírito de justiça, jamais nos esqueceremos de nomes como os dos professores Ronaldo Passini, Samuel Rubinsky e Zilda Kaplan. Outros mestres, igualmente brilhantes, passaram de forma mais rápida pelas nossas salas de aula - como os professores Alexandre  dos Santos Ribeiro (Português), Juca (Biologia), e Ignácio Landell - mas todos deixaram saudades. Quarenta anos se passaram, e deles nos lembramos como se fosse hoje. A estes mestres, que serviram de espelhos para gerações e gerações, gostaria de deixar o meu tardio, mas profundo agradecimento. Para mim, muito mais que mestres, foram exemplos a serem seguidos. Sei que é impossível, mas meu desejo seria o de um dia poder abraçá-los, e dizer-lhes que o seu aluno, muitas vezes sonolento e cansado, muitas vezes desanimado e despercebido, não se perdeu totalmente, logrando formar-se em engenharia na Escola Politécnica da USP e titular-se Mestre em Engenharia pela Universidade do Texas – tendo realizado sua trajetória na área da engenharia do petróleo. Compreendo que isto pouco significa face às mentes  privilegiadas e às carreiras brilhantes de tantos outros ex-alunos do Culto à Ciência,  ainda assim, preciso dizer que muito deste meu pequeno sucesso devo a estes notáveis mestres.  Considerando-se que em breve comemorar-se-á o dia dos professores, e estará completando o quadragésimo aniversário de formatura (conclusão) de nossa turma, gostaria de poder contar com este precioso espaço para, de alguma forma, deixar registrado publicamente, em meu nome, e em nome de todos ex-colegas do noturno cujas manifestações ainda não se fizeram sentir, o nosso eterno agradecimento a esta Escola e a estes dignos mestres.

Muito Obrigado!

Sergio de Pádua Iatchuk, Turma 64, Colegial Noturno E-mail: s_iatchuk@uol.com.br  

 


© Carlos Francisco Paula Neto - última atualização em 21/09/2018
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