B
A T E – P A P O
MOACYR
CASTRO
Um, dois! Pastel com sonho
Tempos modernos. No Rio de Janeiro, o juiz Siro Darlan quer proibir
hambúrguer, batata frita, refrigerante e salgadinho na cantina das escolas –
é para a molecada não engordar, crê o meritíssimo. Já não se fazem mais
juiz, donos de cantina, pais, mães e currículos escolares como antigamente. A
meninada vai trazer porcaria de casa, comprar na lanchonete da rua ou enforcar
aula para matar a gula. Ora, seo juiz! Nunca foi criança?
Nas escolas de Campinas, antanhamente, todo mundo invadia a cantina e ninguém
ficava doente nem gordo. Sabe por quê? No Culto à Ciência, por exemplo, nosso
‘Mestre Cuca’ maior, o seo Alo (sua benção, querido!) não vendia hambúrguer,
batatinha frita, bacon, maionese, quetechupe... Mas não faltavam pastel, sanduíche
de presunto ou mortadela com queijo, cachorro quente, croquete, empadinha,
coxinha... Que louco ia deixar de comer o sonho com creme e goiabada derretida?
E os doces? Dadinho Dizzioli, pirulito Zorro, bala Toffee, pirulito Pelota (único
de hortelã), pirulito Kibon embalado em papel celofane (ainda existe papel
celofane?), bombons Sonho de Valsa e Ouro Branco, Bis, dropes Dulcora, Diamante
Negro, Kibamba, paçoquinha de amendoim... E para beber? Sodinha Colúmbia,
guaraná Caçula, Coca-Cola (um caminhão por dia!), Grapete...
Todos se deliciavam e eu nunca vi as mestras Eclair, Amarilys, Maria Helena
Valverde, Maria José
Estavam sempre lindíssimas. Nem o mestre José Alexandre dos Santos Ribeiro
recusava as delícias do Alo para fazer regime...
Sabe qual a diferença seo juiz? Primeiro, aulas de educação física pra
valer, que reprovavam quem faltasse a mais de 15% delas. A gordura que por
ventura se comia no Alo o professor Stucchi e a dona Lúcia tiravam em meia
hora. Mas as aulas duravam duas, três horas – uma grande atração. Depois,
boa parte dos alunos ia a pé para a escola, atravessando a cidade, na ida e na
volta, quase sempre com os professores – quer companhia melhor?
Quem morava mais longe usava o bonde (Como perder essa aventura diária?). Coisa
mais besta andar de ônibus. Ninguém gostava.
Mexer no cardápio? A meninada vai rir. Tem de levar a sério quem cuida da
educação, alertar os pais, treinar os professores, dar salário digno e
autoridade a eles e juízo aos juízes, para não perderem a moral diante de uma
simples travessura de crianças.
Pregado no poste: “Melhor do que um pastéis do Alo só déis. E rima!”
© Carlos Francisco Paula Neto - última atualização em
21/09/2018
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carlospaula@cultoaciencia.net