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PRIMEIRA
PARTE
SUA
ATIVIDADE NO PRIMEIRO DECÊNIO
(1874 - 1884)
Era
Campinas, no princípio do terceiro quartel do século passado, um dos municípios
mais prósperos e opulentos da então Província de São Paulo. A feracidade de
suas terras, trabalhadas
pelo braço escravo, sob a direção enérgica dos descendentes de destemidos
desbravadores de florestas, transformara a cidade na capital agrícola da Província.
Entretanto,
até o ano de 1854, somente três de seus filhos haviam conquistado a láurea de
um diploma científico, conforme escreveu o grande campineiro Campos Salles (Almanaque de Campinas para 1873). A cultura da terra, absorvente e remuneratória,
precedera a cultura da inteligência, propiciando-lhe mesmo o advento, fazendo
de Campinas um dos mais notáveis centros culturais do país.
Muitos
jovens campineiros procuram então instruir-se em estabelecimentos de ensino da
capital da Província, no colégio S. João do Lageado, em Sorocaba, enquanto
outros fazem seus estudos em colégios que se fundaram em Campinas, como sejam o
colégio S. João, do professor João Brás da Silveira Caldeira; o colégio do
professor João Batista Pupo de Morais, que funcionava na fazenda Laranjal
(Joaquim Egídio); as escolas dos professores Malaquias Ghirlanda, Joaquim
Roberto Alves, e outros.
Em
princípio do ano de 1869, agitou-se a idéia da fundação de um
estabelecimento de ensino na cidade, uma casa de educação que fosse modelar
sob o tríplice aspeto intelectual, moral e físico. .Fora o idealizador da
alevantada iniciativa o adiantado agricultor Antonio Pompeu de Camargo, homem
de
convicções seguras, destinado pelo seu caráter a personificar o tipo moral de
uma época na terra que lhe serviu de berço. O plano do benquisto campineiro
foi recebido com franca simpatia e grande entusiasmo pelos conterrâneos.
Tratou-se logo de organizar uma sociedade constituída por pessoas gradas, representadas por fazendeiros, industriais, comerciantes e alguns graduados pelas academias, com o objetivo de concretizar tão nobre e patriótica idéia.
Na data de seis de fevereiro de 1869, tornaram público o seguinte
manifesto escrito: “Convencidos de quanto é sensível nesta cidade à falta
de um estabelecimento que se destine ao ensino primário e secundário,
regularmente montado, de modo a poder realizar com o aperfeiçoamento possível
a educação moral e intelectual dos alunos; convencidos de que esta falta,
dificultando a educação dos filhos deste município, embaraça de modo
extraordinário o seu progresso moral, e assim neutraliza os grandes elementos
de prosperidade que já possui; convencidos, finalmente, de que é já tempo de
providenciar decisivamente sobre uma tão palpitante quanto urgente necessidade,
têm os abaixo assinados, para o fim de fazer edificar ou reconstruir um prédio
com as acomodações especiais para o referido estabelecimento de ensino, se
associado nas condições abaixo descritas”.
Seis
foram as condições aceitas, sendo as mais importantes as seguintes: a)
Nomear-se uma diretoria com o encargo de mandar construir ou reedificar um prédio
que pudesse obter por compra. b) O prédio regularmente montado deveria ser
entregue por aluguel a indivíduo de reconhecida capacidade para direção do
ensino, e) Cada sócio contribuiria com a quota de quinhentos cruzeiros ou mais,
se lhe aprouvesse.
O
referido manifesto foi apresentado à numerosa reunião de pessoas das mais
representativas, que se realizou no Paço Municipal a 19 de maio desse ano.
Discutido o assunto para que fora convocada a reunião, são em seguida
aprovados seus pontos principais, reduzindo-se apenas a quota sugerida de
quinhentos cruzeiros para vinte e cinco cruzeiros, não se podendo aceitar
acionistas com número menor de cinco quotas.
Foi
na mesma ocasião nomeada uma comissão constituída pelos drs. Jorge de
Miranda, Manuel Ferraz de Campos Salles e Cândido Ferreira da Silva Camargo para
confeccionar os estatutos da novel Sociedade. Ficou também constituída a
diretoria provisória com cinco membros, tendo sido eleitos:
Comendador Joaquim
Bonifácio do Amaral (depois visconde de Indaiatuba), comendador Joaquim Egídio
de Sousa Aranha (depois marquês de Três Rios), Joaquim Quirino dos Santos, dr.
Jorge Guilherme Henrique Krug e Antônio Pompeu de
Camargo.
Conferiram-se
poderes a esta diretoria para representar a sociedade em seus negócios e
arrecadar o dinheiro necessário para compra de um prédio, sendo então
alvitrada a aquisição do antigo sobrado pertencente a herdeiros do tenente
Felisberto Pinto Tavares.
A
ata desta memorável reunião foi assinada pelo presidente Joaquim Bonifácio do
Amaral, secretário Cândido Ferreira da Silva Camargo, Floriano Ferreira de
Camargo Andrade, Antônio Dias Novais, Luís Antônio de Pontes Barbosa, Joaquim
Floriano Novais de Camargo, Antônio Carlos Pacheco e Silva, Joaquim Egidio de
Sousa Aranha, Antônio Leite de Camargo Barros, Álvaro Xavier de Camargo
Andrade, Floriano de Camargo Campos, Francisco de Campos Andrade, Manuel Ferraz
de Campos Salles, Jorge de Miranda, Eliseu Teixeira Nogueira, Pedro José dos
Santos Camargo, Jorge Henrique Krug, Joaquim Teodoro Teixeira, Cândido José
Leite Bueno, Antônio Manuel Proença, Domingos Leite Penteado e Francisco
Soares de Abreu.
O
alvitre para aquisição do grande sobrado pertencente aos herdeiros de
Felisberto Pinto Tavares não se efetivou. Este sobrado, sito à rua Dr. Quirino
(antiga rua do Comércio), tornou-se propriedade do Barão de Ibitinga, mas
estava predestinado a ser a sede de um grande colégio; efetivamente, desde o
ano de 1921 lá está instalado o Colégio Ateneu Paulista, cujos proprietários
adquiriram então por cem mil cruzeiros o imóvel que passou por notável
transformação. (N.A. Atualmente o
prédio do Ateneu Paulista não mais existe)
Em
reunião de 11 de julho ficou resolvido que se procurasse uma grande área de
terreno em condições de satisfazer o fim a que se destinava, devendo a
apresentação dos trabalhos nesse sentido, inclusive preço de compra, ser
feita em uma assembléia que ficou marcada para o dia 22 de agosto.
Na
assembléia realizada nesse dia, ficou estabelecido, entre outras resoluções,
que a aquisição do terreno seria de exclusiva competência da diretoria da
Sociedade; foi também aprovado o projeto dos estatutos que, apresentados ao
Governo Provincial obtiveram a carta na forma da lei, em data de 23 de setembro
de 1869.
Na
mesma assembléia, os diretores Joaquim Egídio, Joaquim Quirino e dr. Jorge
Krug ofereceram uma relação dos terrenos examinados, com os respectivos preços.
Em virtude do que fora deliberado, a diretoria optou pela compra da grande chácara
pertencente ao tenente Antônio Rodrigues de Almeida, situada na extremidade da
rua Alegre, que era a denominação da atual rua Culto à Ciência.
Reunindo
os requisitos necessários para o fim a que se destinava, com uma área superior
a Dois hectares, contendo rico manancial de água pura, não se poderia
encontrar outro terreno mais adequado, apesar de afastado do centro urbano. A
escritura de compra foi lavrada a nove de novembro, pela quantia de dez mil
cruzeiros, abstendo-se de tomarem parte na deliberação e ato de escritura os
diretores Joaquim Bonifácio do Amaral e Antônio Pompeu de Camargo, que se
deram por suspeitos, por motivo de parentesco com o vendedor do terreno.
Nessa época, porém, foi a esperançosa Sociedade obrigada a interromper, por algum tempo, a sua marcha, não porque se arrefecesse o ardor dos associados, mas em virtude das circunstâncias adversas que por aquele tempo sobrevieram, acarretando à lavoura do pais um certo desalento, que não podia deixar de se refletir na vida de um município agrícola, como era Campinas.
Em
janeiro de 1873, quando felizmente já estavam desvanecidos todos os receios, o
ilustre campineiro comendador Joaquim Bonifácio do Amaral que era o presidente
da diretoria, convocou os sócios para se reunirem em assembléia geral, que se
realizou no dia 12 desse mês no edifício da Câmara Municipal.
Presentes
21 sócios, o presidente da diretoria apresentou o relatório e contas, que
foram aprovados. A seguir, explicou os motivos pelos quais a diretoria não
contratara ainda, a construção do prédio destinado ao colégio, e solicitou o
apoio de todos os acionistas para ser levado a bom termo o programa da
Sociedade. Pela assembléia foi dada plena adesão a todos os atos praticados
pela diretoria, hipotecando-lhe ainda todo auxílio para o bom desempenho de sua
missão.
Estando
findo o prazo marcado nos Estatutos para a duração da diretoria, e atendendo
aos justos motivos apresentados pelo Barão de Três Rios (Joaquim Egídio de
Sousa Aranha) e Joaquim Quirino dos Santos, na mesma assembléia foi eleita a
seguinte diretoria: Comendador Joaquim Bonifácio do Amaral, Antônio Pompeu de
Camargo, dr. Jorge Krug, dr. Américo Brasiliense de Almeida Melo e dr. Joaquim
José Vieira de Carvalhais. Os membros da nova diretoria gozavam do mais alto
conceito na sociedade campineira, reunindo, pois, todos os predicados para
efetivar a idéia grandiosa que era a razão de ser da Sociedade Culto à Ciência.
A
diretoria, após haver realizado diversas reuniões em casa do comendador
Joaquim Bonifácio do Amaral, que continuou como presidente, abriu concorrência
para a construção do edifício destinado ao colégio. Estudadas as propostas
apresentadas, foi aceita a do empreiteiro construtor Guilherme Krug (abstendo-se
de votar o diretor dr. Jorge Krug), que se sujeitou às condições exigidas
pela diretoria.
A
11 de março de 1873 lavrou-se, no cartório do 2.o tabelião José Henrique de
Pontes, a escritura do contrato de empreitada para construção do referido edifício,
obrigando-se o empreiteiro a entregá-lo concluído no prazo de oito meses, a
contar dessa data, pela quantia de 45 mil cruzeiros.
Nos
termos desse contrato, deveria o edifício constar de um pavimento térreo e
outro superior, medindo 23,50 metros de frente por 17 metros de fundo, construído
de tijolos aparentes, pelo sistema flamengo, devendo oferecer aspecto elegante.
O pagamento seria efetuado em 6 prestações, sendo a primeira prestação paga
no ato de assinatura do contrato.
No
domingo, dia 13 de abril, procedeu-se ao lançamento da pedra fundamental do
edifício, perante numerosa assistência, tornando-se o ato mais solene pela
presença de muitas famílias.
O
dr. Américo Brasiliense de Almeida Melo, em nome da diretoria, produziu
eloqüente oração manifestando o reconhecimento da Sociedade Culto à Ciência
a todos que lhe vinham trazer a adesão; fez considerações sobre o valor da
instrução, sendo sua palavra interrompida várias vezes pelos aplausos do
grande auditório.
O
estimado campineiro Diogo Pupo, em feliz improviso, saudou a sociedade
que tão abnegadamente trabalhava pela cultura da inteligência, O quintanista
de direito, Ludovice, embora não fosse filho desta terra, discorreu
calorosamente sobre o ato, sendo também muito aplaudido.
O
auto de lançamento da primeira pedra, subscrito pelo secretario da
diretoria, dr. Joaquim José Vieira de Carvalho, foi lido e assinado pelas
pessoas presentes, O referido auto diz o seguinte:
“Auto
de lançamento da primeira pedra do colégio da Sociedade Culto à Ciência”
“Aos
13 dias do mês de abril de 1873, nesta cidade de Campinas, no terreno sito à
rua Alegre e pertencente à Sociedade, achando-se presentes os cinco membros da
diretoria, comendador Joaquim Bonifácio do Amaral, presidente; dr. Joaquim José
Vieira de Carvalho, secretário; dr. Jorge Krug, tesoureiro; dr. Américo
Brasiliense de Almeida Melo, adjunto de secretário, e Antônio Pompeu de
Camargo, diante do grande concurso de pessoas que, espontaneamente, comparecera
ao lugar, o empreiteiro das obras, Guilherme Krug entregou a pedra fundamental
do edifício ao presidente e este, acompanhado de todos os diretores, desceu ao
alicerce e aí a colocou na parte sobre que deve ficar assentada a porta
principal, na frente do mesmo edifício. Terminado o ato, foi lido este auto
que, depois de assinado pela diretoria, empreiteiro e mais pessoas presentes,
foi encerrado em um vaso de cristal depositado sobre a pedra, o qual também
guarda o seguinte: — uma lista nominal de todos os acionistas, um resumo histórico
da fundação da sociedade, um exemplar dos estatutos, dois jornais da capital,
Correio Paulistano e Diário de S. Paulo, publicados no dia 10 do
corrente, a Gazeta de Campinas, de igual data, um Almanaque de Campinas e
de Rio Claro, para o corrente ano, a pena com que o tabelião Pontes lavrou a
escritura do contrato da empreitada para a construção do edifício, uma moeda
de prata de 500 réis, uma dita de 200 réis, duas de níquel, sendo uma de 100
réis e outra de 200 réis, três ditas de cobre sendo urna de 40, outra de 20 e
outra de 10 réis, duas ditas de bronze, sendo uma de 20 e outra de 10 réis e
uma de ouro de 5$000.
E
eu, Joaquim José Vieira de Carvalho, secretário da diretoria subscrevi este
auto. (Seguem-se as assinaturas).
O
empreiteiro deu logo início à construção, a qual prosseguiu com
regularidade, fazendo a entrega da casa de todo ababada no prazo contratual, no
dia 15 de dezembro do mesmo ano. (O saudoso historiador campineiro, Leopoldo
Amaral, escreveu em seu livro “Campinas — Recordações”, que nesta fase a
Associação viu-se obrigada a interromper a marcha; deve haver equívoco, pois
que a interrupção se deu após a compra do terreno até o início da construção,
operada três anos e meio mais tarde).
A
construção do prédio e demais aprestos inerentes atingiu a setenta mil
cruzeiros; havendo sido arrecadados dos sócios apenas trinta e oito mil
cruzeiros, o comendador Joaquim Bonifácio do Amaral supriu com dinheiro de seu
bolso e sem juros, o restante da importância necessária.
Referindo-se
ao gesto generoso do comendador Joaquim Bonifácio, escreveu o brilhante
jornalista Quirino dos Santos: “O serviço que ele acaba de prestar ao nosso
município, é daqueles que constituem um brasão imperecível e que as palavras
não podem medir no devido alcance”. Escreveu mais: “Campinas foi a primeira
cidade da Província que deu um exemplo destes, tão nobre e tão notável”.
No
dia 1.o de dezembro de 1873 realizou-se a Assembléia Geral dos acionistas da
Associação Culto à Ciência. A diretoria apresentou o relatório e
respectivas contas, tendo sido aclamada uma comissão composta do tenente
coronel José Egídio de Sonsa Aranha, Antônio Manuel Proença e Bento Quirino
dos Santos, para proceder ao exame e emitir seu parecer.
O
secretário da diretoria, dr. Vieira de Carvalho, ofereceu um projeto para a
organização administrativa e docente do colégio. Para estudar o assunto foi
também aclamada uma comissão constituída pelo Barão de Três Rios, tenente
coronel Antonio Carlos Pacheco e Silva, Antônio Manuel Proença, dr. Jorge de
Miranda e dr. F. Quirino dos Santos.
No
domingo, 21 de dezembro, reuniram-se novamente os sócios em assembléia geral,
sendo aprovadas as contas apresentadas pela diretoria. Para solver o déficit
proveniente da construção do edifício, o estimado gerente do Banco Mauá
& Cia., Domingos Luís Neto, ofereceu a importância necessária. Os
prestantes diretores drs. Vieira de Carvalho e Américo Brasiliense solicitaram
exoneração de seus cargos, visto terem de se ausentar da cidade; foi-lhes
consignado um voto de louvor sendo as
vagas preenchidas pelos Srs.
Manuel Ferraz de Campos Salles e Cândido Ferreira da Silva Camargo.
No
último domingo do ano, 28 de dezembro, reuniu-se a diretoria a fim de empossar
os novos diretores drs. Campos Salles e Cândido Ferreira. Foram então eleitos o
dr. Campos Salles para secretário da diretoria e dr. Cândido Ferreira para
adjunto. Tratou-se, a seguir, de resolver sobre a nomeação do diretor e
abertura do colégio, ficando adiada para o dia seguinte a discussão das bases
apresentadas.
No
dia 29 reuniu-se novamente a diretoria da sociedade, sendo então nomeado para o
cargo de diretor do colégio o professor Ferdinando Boeschentein, percebendo o
ordenado anual de seis mil cruzeiros e, sob proposta deste, o professor Daniel
Uhlmann, para vice-diretor, com o vencimento anual de três mil cruzeiros.
Na
mesma reunião ficou deliberado que a instalação do colégio seria realizada
no dia 12 de janeiro de 1874. Dava, assim, o povo campineiro um exemplo da mais
alta significação patriótica: a organização em seu próprio meio de uma
sociedade que, sem visar proventos materiais, cuidasse da formação intelectual
e moral da mocidade, o grande ideal dos povos em todo tempo.
Os
estatutos sociais, que haviam sido aprovados por ato do Governo Provincial de 23
de setembro de 1869, sofreram algumas alterações em Assembléia Geral de
dezembro de 1873. Foram, no entanto, mantidos os fins essenciais da Associação:
a fundação e manutenção, em Campinas, de um estabelecimento de ensino primário
e secundário, sem lucro algum pecuniário aos associados; os bens sociais e o
rendimento destinar-se-iam exclusivamente em benefício da instituição; seriam
admitidos gratuitamente alunos pobres; no caso de dissolução da sociedade, o
patrimônio ficaria pertencendo à municipalidade de Campinas, com a obrigação
de aplicar seus vencimentos em proveito da instrução. A Sociedade Culto à Ciência
havia realizado um capital de Cr $86.817,78.
No
dia 12 de janeiro de 1874 deu-se, como estava anunciado, o ato solene da
inauguração do Colégio Culto à
Ciência, no belo edifício construído pela
Associação no fim da rua Alegre (atual Culto à Ciência). A solenidade correu
entre grande entusiasmo e expansões de júbilo, mostrando a gente desta terra
que bem sabia avaliar o significado do grande feito.
O
vigário da paróquia de Santa Cruz (hoje Matriz do Carmo), padre
Francisco de Abreu Sampaio procedeu, com todas as cerimônias do ritual católico,
ao benzimento do novo edifício, percorrendo todas as salas. Concluída esta
solenidade, a diretoria do Culto à Ciência, constituída do presidente
comendador Joaquim Bonifácio do Amaral (depois Visconde de Indaiatuba), secretário
dr. Manuel Ferraz de Campos Salles, vice presidente Antônio Pompeu de Camargo e
drs. Jorge Krug e Cândido Ferreira da Silva Camargo tomou assento em lugar
adrede preparado numa das salas de aula, que se achava repleta de famílias e
cavalheiros.
Levantando-se
o presidente, comendador Joaquim Bonifácio, disse que tinha a honra de
declarar, tomado do maior contentamento, que estava inaugurado o Colégio Culto
à Ciência. Calorosas salvas de palmas vibraram em toda a sala.
Em
seguida, o secretário dr. Campos Salles, com a sua reconhecida eloqüência,
proferiu o seguinte discurso, muito aplaudido:
“Senhores:
Em presença do fato que hoje solenizamos, quem há que não pressinta através
do futuro a grande luz, a luz que ilumina toda a humanidade: o progresso?”.
“O
cidadão já não se limita a esperar do Estado aquilo que pode fazer por si e
que constitui uma indeclinável necessidade sua. Os meios não faltam. Quando a
vontade individual não basta, convoca-se o esforço comum e forma-se a associação
para levantar a escola. Se isto não é tudo, pelo menos prenuncia a próxima
solução do mais importante problema social, porque significa o despertar da
consciência pública”.
“E
já muito na verdade quando sentimos que temos sede de instrução. E’ o
sintoma precursor da saúde moral dos povos. Sim, a sociedade caminha, obedece
às leis do progresso e já agora vê o verdadeiro ponto de partida para os mais
altos destinos no desenvolvimento da razão, na cultura do espírito, esse
centro luminoso onde reside por excelência a distinção suprema que
caracterizou o ser humano — a coroa da criação.
“Atesta
a história que outrora, quando em tudo e por toda parte as aspirações do
homem tinham um limite invencível na bárbara lei do privilégio, a educação
intelectual de todo monopolizada era antes um luxo da classe aristocrática,
do que uma necessidade dos povos”.
“A
escola era o apanágio exclusivo daqueles que, para garantia de supostos
direitos, julgavam necessário avassalar tudo, sobrepujando o espírito, a alma,
o cérebro do povo. E ao serviço dos inimigos da humanidade foi posto o braço
prepotente do jesuitismo”.
“Extirpar
a ignorância era, pois, combater de um golpe a absurda desigualdade posta pelos
preconceitos no seio da sociedade, que assim se achava dividida em duas classes:
urna feita para governar e outra para ser governada”.
«Cabeça
e braço, motor e máquina, eis como estava constituída a humanidade. Era como
uma diferença de rapas.
“Mas
a filosofia moderna, com a lógica inflexível dos sãos princípios, triunfa
pouco a pouco do preconceito. Um instinto natural desperta no povo a necessidade
de reivindicar os direitos usurpados. Trava-se luta gigantesca, opera-se a
auspiciosa revolução das idéias e o choque dos interesses opostos entre a
aristocracia e a realeza, fez que do velho feudalismo da Inglaterra, nascesse a
aurora da liberdade para todas as nações”.
“E
se é certo que hoje a necessidade da instrução popular é entre nós um ponto
livre de controvérsia, e se é esta a verdade universalmente proclamada,
cumpre, porque o momento urge, fazê-la baixar do realismo doutrinário para a
realeza prática”.
“Eu
conheço, disse um profundo pensador, uma força maior que todas as forças: —
é a força do espírito humano quando ele é esclarecido; e uma fraqueza, a
mais incurável de todas as fraquezas: é a ignorância.
“Não
se espere, pois, indolente pela ação oficial. Que o povo se associe para
educar o povo”.
Serenadas
as palmas, ocupou a tribuna o professor Ferdinando Boeschentein que, em longas
considerações sobre as vantagens do estudo, expôs o seu programa como diretor
escolhido para o colégio.
O
brilhante poeta e jornalista F. Quirino dos Santos recitou uma poesia, dedicada
ao seu amigo Joaquim Bonifácio do Amaral, da qual destacamos a seguinte quadra:
Oh
grandes! oh pequenos! é de todos a esmola!
O
espírito tem fome e em ânsias se desfaz!
Abate-se
a cadeia quando se funda a escola!
E
vão-se a guerra e o crime: a educação é a paz!
O
dr. Vicente Maria de Paula Lacerda produziu também bela peça oratória, sendo
muito aplaudido. Terminada a sessão inaugural, passaram os assistentes a um
compartimento fronteiro, onde lhes foi servido farto lanche, sendo então
levantados diversos brindes, todos correspondidos na maior efusão de júbilo.
E assim se instalou esse templo de instrução, exemplo talvez único no país, devido à iniciativa de uma associação que não esmoreceu diante das dificuldades que sempre se apresentam para obstar aos grandes empreendimentos. Entretanto, se a diretoria muito fez para que tomasse corpo a legítima aspiração desta terra, é de justiça salientar os nomes de Antônio Pompeu de Camargo — o idealizador, e do comendador Joaquim Bonifácio do Amaral — o realizador do monumento destinado a ser um padrão de glória para a terra campineira: o Colégio Culto à Ciência. O diretor do colégio, professor Ferdinando Boeschentein, e o vice-diretor Daniel Uhlmann, que mantinham em Araraquara o Colégio Ipiranga, fizeram em data de 30 de novembro de 1873 uma publicação pela imprensa, comunicando que o mesmo seria incorporado ao novo colégio de que eram diretores.
Em
fins de março desse ano, foi rescindido o contrato com os antigos diretores do
Colégio Ipiranga, sendo então contratados para exercer o cargo de diretor do
Culto à Ciência o dr. Francisco Xavier Moretzsohn, e para vice-diretor o
professor João Bentley. O diretor Moretzsohn imprimiu sábia e brilhante
orientação ao estabelecimento, cuja fama se espalhou logo pela Província.
Animada
por tão inteligente orientação, a diretoria da Sociedade desenvolveu grande
empenho no sentido de dotar o instituto de ensino com um corpo docente constituído
por professores competentes, o que foi plenamente conseguido. Eis a relação
dos professores:
Dr.
Francisco Moretzsohn, diretor: Português e alemão.
João
Bentley, vice-diretor: Aritmética, álgebra, francês, inglês e geografia.
Amador
Bueno Machado Florence: Latim, francês e desenho.
Henrique
de Barcelos: Gramática portuguesa.
Antônio
Martins Teixeira: Primeiras letras, doutrina cristã e sistema métrico.
Leon
Blazeék: Piano e ginástica.
Maria
Dias de Melo: Música.
As
aulas funcionavam nas salas do 1.o pavimento, achando-se instalados no pavimento
superior os dormitórios e a administração.
Os
exames de fim do 1.o ano letivo iniciaram-se no dia três de dezembro e
prosseguiram até o dia cinco, havendo os alunos demonstrado grande
aproveitamento, firmando a justa nomeada do diretor e do corpo docente.
Terminadas
as provas de exames, a que estiveram sempre presentes os membros da diretoria do
Culto à Ciência e do Conselho de Instrução Pública do distrito,
pronunciaram discursos cheios de inspiração o diretor Dr. Moretzohn, o dr. José
Bonifácio da Silva Pontes, membro daquele Conselho, sendo ambos muito
aplaudidos; o dr. Manuel Ferraz de Campos Salles, delirantemente aclamado; o dr.
F. Quirino dos Santos, também aplaudido com veementes palmas.
Em
seguida foi servido um delicado lanche, durante o qual ergueram-se os mais
entusiásticos brindes ao diretor do estabelecimento e sua exma. senhora, à
Diretoria do Culto à Ciência, ao Conselho de Instrução e ao comendador
Joaquim Bonifácio do Amaral.
O
colégio contava então 60 alunos internos, 10 semi-pensionistas e 14
externos. Obtiveram as melhores notas, pelo seu comportamento e aplicação, os
seguintes alunos: Joaquim Floriano de Camargo Junior, Francisco de Campos
Barros, José de Campos Novais, Joaquim Franco de Camargo, Rodrigo Monteiro de
Barros, Antônio de Pádua Sales, Antônio Pupo Nogueira, Francisco de Assis
Nogueira, Cândido Morais Bueno, Ernesto N. da Luz, Euclides Egídio de Sousa
Aranha, João de B. Machado, Lasdilau Leite de Barros, Artur Sampaio, Luís de Campos Salles, Luís Vitorino Moretzsohn, José Francisco Barbosa Aranha Júnior,
Pedro Alcântara de Sousa Aranha, Artur Nogueira Ferraz, Francisco Ferreira de
Camargo, Artur Leite de Barros, Pérsio Pacheco, Luciano Teixeira Nogueira e
Bento José dos Santos.
Pelo
desembaraço e rapidez com que resolveram as questões de aritmética, os alunos
Pérsio Pacheco e Silva e Luciano Teixeira Nogueira mereceram uma referência
elogiosa do examinador Joaquim Correia de Melo. Nos exames de latim, foram
elogiados pelo mesmo examinador os alunos Francisco de Campos Barros, Luís de Campos Salles
e Luís Vitorino Moretzsohn.
Dos
alunos que estudavam música, cujas aulas eram ministradas pelo professor
Azarias Dias de Meio, fizeram jus ao elogio do competente maestro José Pedro
Sant’Ana Gomes, os seguintes: Joaquim Álvaro de Sousa Camargo — 1.o pistão,
Artur Sampaio — 1.o clarinete, José de Campos Novais — 1.o flautim, Eduardo
Pompeu — 1.o saxofone, Antônio de Pádua Sales — 1.o saxofone, Euclides Egídio
— trombone e Silvano Pacheco — bombardino.
Ao
esforçado diretor do colégio, dr. Francisco Xavier Moretzsohn, foi dirigido um
ofício de congratulações da diretoria pelo excelente resultado dos exames,
assinado pelo secretário dr. Campos Salles.
O
Colégio Culto à Ciência era então o único no gênero em todo o país;
mereceu especial menção do Ministro do império, conselheiro João Alfredo
Correia de Oliveira, pelo importante serviço que estava prestando à instrução
pública (ofício de 19 de setembro de 1874). — O Presidente da Província,
dr. João Teodoro Xavier, teceu os melhores elogios ao estabelecimento, como se
infere de suas palavras: — “Louvo estes relevantíssimos serviços prestados
especialmente à instrução até agora tão desprezada, serviços que revelam o
alto grau de filantropia e espírito público desse município”.
A
4 de março de 1875 ocorreu o falecimento do dr. Jorge Guilherme Henrique Krug,
grande amigo da instrução, para o que não media sacrifícios. Aqui fundou o
Colégio Florence, dirigido pela sua respeitável irmã d. Carolina Florence, e
tomou parte saliente na fundação do Colégio Culto à Ciência. Falaram, à
beira da sepultura, o dr. Manuel Ferraz de Campos Salles e o professor
Rencheler, este do Colégio Internacional.
A
diretoria da sociedade, constituída de cidadãos cultos, reconhecendo a influência
que exerce o professor na formação do espírito do aluno, bem como das linhas
definidoras de sua personalidade, preocupava-se continuamente com o corpo
docente do colégio. Em junho de 1876 foram admitidos o ilustrado Juiz Municipal
dr. Carlos A. de Sousa Lima para lecionar aritmética e geografia, e o professor
S.F. Philidory para as disciplinas de francês, latim e caligrafia.
Nos
termos do manifesto publicado na “Gazeta de Campinas”, o Colégio Culto à
Ciência habilitava os alunos em todas as matérias exigidas para a matrícula
nas academias do pais, para o comércio e para a indústria. A pensão semestral
era de Cr$ 250,00 para os alunos internos, Cr$ 180,00 para os semi-pensionistas e
Cr$ 60,00 para os externos. A diretoria achava-se assim formada: Antônio Pompeu
de Camargo — presidente; dr. Cândido Ferreira da Silva Camargo —
vice-presidente; dr. Manuel Ferraz de Campos Salles — secretário; Bento
Quirino dos Santos — tesoureiro; e Luís Antônio de Pontes Barbosa. Na direção
do colégio continuava o dr. Francisco Xavier Moretzsohn.
Em
novembro desse ano, submeteram-se às provas de exame, em S. Paulo, os seguintes
alunos: Inácio de Queiroz Lacerda, Antônio de Pádua Sales, Adolfo Correia
Dias, Cândido de Morais Bueno, Euclides Egídio de Sousa Aranha, Olavo Egídio
de Sousa Aranha, José de Campos Novais, Luís de Campos Salles, Carlos de Meira
Botelho, Júlio César Ferreira de Mesquita, Joaquim Álvaro de Sousa Camargo,
Alexandre Florindo Coelho, Juvenal Leite Penteado e outros. O resultado veio
confirmar a excelência do ensino ministrado no colégio. Houve 12 aprovações
plenas e 8 simples em português, e apenas 1 reprovado; em francês foram
obtidas 10 aprovações plenas e 1 simples, e em inglês 1 plenamente e 2 aprovações
simples.
Já
no ano seguinte, em exames também prestados na capital da então Província,
registraram-se 15 aprovações em português, 16 em francês, 14 em inglês e 3
em latim.
Por
esse tempo, o Colégio Internacional, fundado em 1870 nesta cidade e de que era
diretor o professor O. Nash Morton, também muito cooperava para instruir a
mocidade, enviando alunos a S. Paulo, onde demonstravam excelente preparo nos
exames a que lá se submetiam.
No
dia 1.o de janeiro de 1878, reuniram-se os acionistas em número de 85, no salão
do Clube da Lavoura, a fim de se proceder à eleição da nova diretoria e serem
examinadas as contas para sua aprovação. Aberta a assembléia, foi logo
suscitada a questão se podiam ou não votar os acionistas ausentes, mediante
procuração. Não tendo havido acordo entre os acionistas, foi aprovada a
proposta apresentada pelo dr. Delfino Pinheiro de Ulhoa Cintra, no sentido de
ser adiada por seis meses a eleição.
O
dr. Francisco Xavier Moretzsohn, que desde março de 1874 vinha exercendo com
grande competência o cargo de diretor do colégio, solicitou em data de 28 de
março de 1878 a exoneração, sendo substituído pelo dr. Melquíades
da Boa Morte Trigueiro, ex-professor da Escola Normal de São Paulo e de
muito tirocínio no magistério.
Os
dois primeiros alunos do Colégio Culto à Ciência que concluíram os preparatórios,
Júlio César Ferreira de Mesquita e Inácio de Queirós Lacerda,
matricularam-se em 1878 no 1.o ano do curso jurídico da capital. (N.A.: Inácio
de Queiróz Lacerda viria a ser, em 1889, um dos fundadores e proprietário do Ramal
Férreo Campineiro, a linha férrea que ligava Campinas à fazenda Cabras,
de propriedade da família).
Por
esse ano de 1878, tinha o colégio um grupo de alunos que cultivavam a arte
teatral. Entre os mais entusiastas figuravam Cincinato César da Silva Braga, João
Batista Correia Neri, José Manuel Lobo e Manuel Saturnino do Amaral, os quais
levaram à cena, com retumbante êxito, um peça de França Júnior denominada “Tipos da Atualidade”.
Em
novembro seguiu a turma de alunos do colégio para prestar em S. Paulo os exames
de diversas matérias. O resultado veio mais uma vez confirmar a excelência do
ensino ministrado no Culto à Ciência, havendo alcançado as melhores notas os
seguintes alunos: Antônio Cândido de Camargo: Cincinato César da Silva Braga,
João Francisco Reis Jr., João Nepomuceno Nogueira da Mota, José Pinheiro de Uchoa, Antônio Alvares Lobo, Antonio do Amaral Vieira, Artur de Freitas
Albuquerque e Francisco de Paula Pinto.
No
fim do ano seguinte, obtiveram os primeiros lugares nos exames de latim, inglês,
francês e português, prestados em S. Paulo, os alunos: Antônio Alvares Lobo,
Adolfo Correia Dias, Francisco de Paula Pinto, Joaquim José Saraiva Junior,
Tito de Sousa Rodrigues, Francisco de Assis Barros Penteado, João N. Nogueira
da Mota, José Eduardo Rágio Nóbrega, João Batista Machado Junior, Manuel
Saturnino do Amaral, Teotônio Elias de Paula, Abelardo Pompeu do Amaral, José
Manuel Lobo, João Batista Correia Neri e Bráulio Ludgero de Toledo, ao todo
36 aprovações e apenas 6 reprovações. Fazia parte do corpo discente
Alberto dos Santos Dumont, que mais tarde tanto glorificou o Brasil.
Nos
exames a que se submeteram durante os meses de fevereiro e março de 1880,
conquistaram as melhores notas em retórica, filosofia, história, aritmética e
geometria, os alunos: Adolfo Correia Dias, Antônio Alvares Lobo, Cincinato César
da Silva Braga, Francisco de Assis Barros Penteado, Joaquim Augusto Gomide, João
Nepomuceno Nogueira da Mota, Oscar Ataliba da Mota Amaral e José Manuel Lobo.
Concluíram
os exames de preparatórios os alunos Adolfo Correia Dias, Antônio Alvares
Lobo, José Eduardo Rágio Nóbrega, Francisco de Assis Barros Penteado, João
Nepomuceno Nogueira da Mota e Tito de Sousa Rodrigues, sendo que os três
primeiros matricularam-se nesse ano na Faculdade de Direito de S. Paulo.
No
dia 7 de novembro de 1880, domingo, reuniram-se os acionistas da Instituição
no paço da Câmara Municipal, sob a presidência de Antônio Pompeu de Camargo.
Após a leitura do relatório apresentado pela diretoria, o dr. Cândido
Ferreira da Silva Camargo propôs o adiamento da assembléia para o dia 14 do mês,
em que se procederia à eleição dos novos diretores, o que teve o consenso dos
presentes.
No
referido dia, realizou-se a assembléia na sala das sessões da Câmara
Municipal, sob a presidência de Antônio Pompeu de Camargo. Foi aprovado o
parecer da comissão de contas, lido pelo dr. Francisco Augusto Pereira Lima.
Com
a palavra, o dr. Manuel Ferraz de Campos Salles expôs, em nome da diretoria, os
fatos mais importante relativamente aos negócios da Associação, declarando
que o déficit podia ser considerado extinto, em virtude do animador acolhimento
que tivera uma subscrição destinada a saldar a dívida exististe. Fez o histórico
da marcha administrativa do estabelecimento desde a sua fundação, tecendo
elogios ao diretor, dr. Melquíades Trigueiro.
Em
seguida, o dr. Luís Silvério Alves Cruz propôs um voto de louvor a todos que
haviam concorrido em benefício da casa de ensino. A nova diretoria, então
eleita, foi a seguinte: drs. Cândido Ferreira da Silva Camargo, Francisco
Augusto Pereira Lima, Carlos Norberto de Sousa Aranha e Jorge de Miranda, e
mais Álvaro Xavier de Camargo Andrade. Apurada a eleição, falou o dr. Cândido
Ferreira em nome da diretoria, sendo a mesma imediatamente empossada.
Encerrava-se,
assim, de modo auspicioso para o Colégio Culto à Ciência, o ano de 1880,
que fechou um decênio tão fértil em iniciativas particulares, levantando um
florão de legítimo orgulho para os filhos de Campinas. Em 1870 é fundado o
Clube Semanal com o patrimônio de Cr$ 26.750,00; em 1872 organiza-se a
Companhia Campineira de Iluminação a Gás, com o capital de Cr$ 396 .000,00;
em 12 de janeiro de 1874 é inaugurado o Colégio Culto à Ciência; em 15 de
agosto de 1876 inaugura-se a Santa Casa de Misericórdia, cujas obras custaram
Cr $ 284.267,00; em 1878 é construído o Hospital de Morféticos, com subscrição
popular que atingiu a Cr $ 15.000,00, e ainda fundado o Hipódromo Campineiro
com o capital de Cr$ 40.000,00. Tantas iniciativas arrancaram do grande filho
desta terra, Campos Salles, a entusiástica interrogação: “Qual o município
que mais tenha feito?”.
Em
março de 1881 concluíram o curso de preparatórios os alunos Antônio do
Amaral Vieira, José Manuel Lobo e Joaquim Augusto Rágio Nóbrega, que ficaram
habilitados à matrícula no 1.o ano da Faculdade de Direito.
Exercia
então o cargo de diretor do Colégio Culto à Ciência o dr. Alfredo Augusto
Campos da Paz, espírito culto e de rija têmpera moral, que por motivo de moléstia
teve de exonerar-se, havendo deixado de sua breve direção no educandário
campineiro o traço indelével de um caráter inflexível no cumprimento do
dever. Faleceu no Rio de Janeiro a 26 de janeiro de 1883.
O
ensino de ciências naturais, ministrado pelo emérito educador dr. João Kopke,
ressentia-se da falta de aparelhos para a parte experimental; a montagem do
gabinete de física fez-se em janeiro de 1882, com aparelhos que foram
encomendados nos Estados Unidos da América do Norte.
Achava-se
na direção do estabelecimento o dr. Isidoro de Pinho, que aproveitou o período
de férias desse ano para proceder à pintura geral do prédio, reforma do
mobiliário escolar e serviço de drenagem na chácara. Elaborou também o
regimento interno, organizou o programa de ensino e incentivou a realização de
conferências sobre questões de maior relevância no ensino.
Debaixo do mesmo incentivo, resolveram os alunos formarem uma associação, que deveria publicar um pequeno hebdomadário, “Aliança”, e cuja diretoria foi a seguinte: dr. Isidoro de Pinho — presidente honorário; Alberto Sarmento — presidente; Teodolindo Lima — vice-presidente; Edgardo Ferreira — 1.o secretário; Joaquim Gabriel — 2.o secretário; José la Farina —procurador e Manuel de Castro — tesoureiro e orador.
Em
outubro de 1882 deixou o cargo de professor do Culto à Ciência o ilustre
escritor Júlio Ribeiro, que foi fundar um colégio em Capivari. Para as
cadeiras vagas foram contratados o padre dr. Fergo Dauntre para reger as
cadeiras de latim e retórica, e o dr. João Alberto de Sales para francês e
filosofia.
A
Assembléia Geral realizada no dia 25 de dezembro desse ano, convocada para eleição
da diretoria, tomou um aspeto grave, produzindo uma impressão desfavorável aos
velhos propugnadores do Colégio Culto à Ciência. A Associação, fundada
havia um pouco mais de um decênio, visando um tão alevantado fim, parecia que
caminhava para o aniquilamento com a desagregação de seus elementos
constitutivos. A mudança freqüente de diretores do colégio deveria também
concorrer para o declínio do estabelecimento, às voltas com a instabilidade
administrativa.
A
nova diretoria, que recebeu o colégio em situação pouco animadora e ficara
com o encargo de reerguê-lo para o bom nome desta terra, ficou assim constituída:
Major João Martins de Azevedo, Francisco Glicério, Elisiário Ferreira de
Camargo Andrade, Major Carlos Egídio de Sousa Aranha e João Manuel Alves
Bueno.
Dois
dias depois, os diretores Elisiário Ferreira de Camargo Andrade e Francisco
Glicério, na qualidade de únicos membros da diretoria recém-eleita,
convocaram pela imprensa todos os sócios efetivos para uma Assembléia Geral no
dia 31, em que se trataria, além da discussão a aprovação das contas da
administração anterior, do fechamento ou continuação do colégio.
Realizou-se
a Assembléia no dia marcado, ficando resolvido que a casa de ensino fundada
pelos campineiros não podia fechar-se. A diretoria então eleita foi a
seguinte: dr. Delfino Pinheiro de Ulhoa Cintra — presidente; João Manuel
Alves Bueno — vice-presidente; Francisco Glicério — 1º secretário; Luiz
Quirino dos Santos — 2.o secretário, e José de França Camargo —
tesoureiro. Ficou como diretor interino do colégio o professor Joaquim de
Toledo.
O
estabelecimento que tantos benefícios havia prestado ao desenvolvimento
intelectual da mocidade paulista, esteve pois, na eminência de encerrar sua
atividade.
Felizmente, para o bom nome desta terra, a nova diretoria imprimiu-lhe grande alento, graças a medidas acertadas que logo adotou. Recebendo o educandário com 9 ou 10 alunos apenas, já contava no início da segunda quinzena do mês de janeiro com 57 alunos, aguardando para breve a entrada de mais dez.
Ficou
assim garantida a continuação dessa casa de ensino, testemunho eloqüente da
iniciativa particular e do desprendimento dos antigos campineiros.
Para
exercer o cargo de diretor efetivo foi convidado o dr. José Nápoles Teles de
Meneses, conhecido educador que já fora diretor de um colégio na capital do país,
tendo chegado a Campinas a 3 de fevereiro e se instalara no próprio colégio.
Pelo
boletim publicado em 21 de abril de 1883, assinado pelo novo diretor, obtiveram
notas ótimas em português Bento Pereira Bueno, em latim, Otávio Mendes, em
geometria Antônio Pinto e Miguel Penteado, em aritmética Antônio Pinto,
Miguel Penteado, Clodomiro Franco, Bento Bueno, Cândido Egídio, Felix Bocaiúva,
Francisco da Costa Carvalho e outros.
Faziam
parte do corpo docente os professores dr. João Alberto Sales, Henrique de
Barcelos, dr. Gabriel Dias da Silva, Joaquim Toledo, Antônio Mercado, Baceiwits,
João Vieira de Almeida e Augusto Pegelow.
A
instituição “Culto à Ciência” nunca se encontrou em situação folgada
pelo lado financeiro; recebendo alunos pobres que não contribuíam nem se quer
com a taxa de matrícula, cobrando prestações módicas de outros, era natural
tivesse suas fases deficitárias.
Foi
numa dessas fases que os alunos da Escola Sociedade Luiz de Camões, ao impulso
de nobre solidariedade, levaram a 8 de junho de 1883, no Teatro São Carlos, a
peça — O gato de botas, em benefício do Culto à Ciência. A hora marcada
para início do espetáculo, já se achava literalmente cheio o teatro.
De
um camarote, o aluno do colégio beneficiado, João Coutinho de Lima, proferiu
entusiástico discurso alusivo à festividade, O diretor dr. Teles de Menezes
leu uma brilhante oração, fazendo o histórico da benemérita Associação
Culto à Ciência, em que recordava os seus abnegados fundadores. Rematou o
espetáculo a comédia “Os alunos do sr. Pantaleão”, cujo desempenho muito
agradou a todos.
Os
alunos do Culto à Ciência organizaram por esse tempo um Clube Atlético, o
qual levou a efeito em 14 de outubro desse ano um interessante certame esportivo
no terreno do colégio.
No mês de novembro, como vinha sucedendo todos os anos, os alunos mais
adiantados submeteram-se aos exames em São Paulo. Houve 32 aprovações nas
diversas matérias, alcançando a melhor classificação, entre outros, os
seguintes alunos: Abelardo de Cerqueira César, Antônio Francisco de Paula
Sousa,
Luís Augusto de Queirós Aranha, Otaviano de Sonsa Bueno, Felix Bocaiúva e João
Custódio da Costa Carvalho. O resultado excedeu a expectativa, atendendo-se a
que as aulas se iniciaram nesse ano no mês de abril e diversos alunos
ingressaram com atraso.
Foi
comemorado a 12 de janeiro de 1884 o primeiro decenário da fundação do Colégio
Culto à Ciência. A primeira pagina da Gazeta de Campinas desse dia traz
diversos artigos alusivos à data, assinados por Carlos Ferreira, Alberto Sales,
Otávio Mendes, dr. Gabriel Dias da Silva, Alípio Teles, João Vieira de
Almeida e Antônio Maria da Silva, sendo estes quatro últimos, professores do
estabelecimento.
Escreveu
Carlos Ferreira: “O Colégio Culto à Ciência é um dos primeiros
estabelecimentos de ensino do império, considerado sob todos os pontos de
vista”, O professor João Vieira de Almeida disse: “O Culto à Ciência tem
sido o fator mais poderoso do adiantamento de nosso povo”.
O
diretor dr. Teles de Meneses, em bem lançado artigo, procurou ligar a data que
se comemorava ao nome de Jorge Krug — um dos fundadores do estabelecimento,
grande animador das questões relativas à instrução.
Uma
comissão de alunos, constituída por José Pinheiro de Ulhoa, Manuel da R.
Castro, Augusto Bueno, Otaviano Bueno, Francisco da Costa Carvalho, Joaquim Egídio
de Sonsa Aranha e Cândido Egídio de Sousa Aranha dirigiu um manifesto,
publicado no referido jornal do dia, ao Presidente e membros da Diretoria do Colégio
Culto à Ciência.
Os
alunos que formavam o Clube Atlético comemoraram no domingo, dia 13 a passagem
do 1.o decenário, com jogos e corridas que tiveram extraordinária animação.
Nesse dia foram colocados em uma das salas principais do colégio os retratos
dos fundadores Joaquim Bonifácio do Amaral (Visconde de Indaiatuba) e dr. Jorge
Guilherme Henrique Krug.
Nesse ano de 1883 fechou a matrícula com 112 alunos.
Por
motivo de conveniência à boa disciplina e aplicação, resolveu a Diretoria em
fevereiro de 1884 que seriam admitidos somente alunos internos, sendo entretanto
permitido que continuassem durante esse ano os alunos de outras categorias que já
se achavam matriculados.
Na tarde de 14 de março de 1884 faleceu em Campinas o estimado cidadão
de nobre estirpe, Antônio Pompeu de Camargo, que tanto contribuíra para o
progresso de sua terra e cujas qualidades de caráter íntegro eram por todos
admiradas. Era a personificação da bondade e do desinteresse, e dele escreveu
Francisco Glicério: “E’ um patrício cujo nome e cuja constituição moral
devem ser invocados, sempre que as tormentas das más horas sociais passarem
rugindo sobre nossas cabeças”. Os funerais realizaram-se no dia imediato,
sendo o féretro carregado da casa do ilustre extinto até a igreja pela
diretoria do Colégio Culto à Ciência, do qual fora o idealizador e de cuja
diretoria fizera parte.
Em
data de 20 de maio de 1884 solicitou e obteve demissão do cargo de diretor do
colégio o dr. José de Nápoles Teles de Meneses, que se retirou para São
Paulo. Foi nomeado para substituí-lo o dr. Amador Bueno Machado Florence,
escritor e orador brilhante, que imprimiu excelente direção ao
estabelecimento.
CAP. II — REFORMA DOS ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO CULTO A CIÊNCIA
DIREÇÃO DE JORGE MIRANDA E HIPÓLITO
PUJOL
DISSOLUÇÃO
DA ASSOCIAÇÃO
A
Associação Culto à Ciência vinha sendo regida pelos estatutos que datavam da
época de sua fundação, convindo reformá-los em alguns pontos para que se
adaptassem melhor às conveniências que se manifestaram posteriormente. Para
esse fim, foi convocada uma Assembléia Geral dos membros pertencentes à
referida Associação, que se realizou a l.o de junho de 1884.
Expostos
os fins da reunião, ficou nomeada uma comissão composta do dr. Francisco da
Costa Carvalho, dr. Manuel Farias de Campos Salles, major Carlos Egídio de
Sousa Aranha o capitão Francisco Alves de Almeida Sales para examinar e emitir
parecer sobre o projeto de reforma apresentado pela diretoria. Para a discussão
dessa reforma foi convocada outra Assembléia Geral para o dia 8 do mês, a qual
se realizou porém no dia 21 na sala da Câmara Municipal, sendo aprovados sem
emendas os novos estatutos.
Art.
1.o — A Sociedade “Culto à Ciência”, fundada pelos estatutos aprovados
pelo Governo Provincial em 23 de setembro de 1869, com sede nesta cidade de
Campinas, fica constituída sob a forma de anênimo e continua a ter por fim
manter e dirigir um colégio de instrução primária e secundária, promovendo
a educação de alunos do sexo masculino.
Art.
2.o — A Sociedade não tem direito à distribuição de dividendos ou
quaisquer outros lucros pecuniários.
Art.
4.o — O capital social será de Cr $110.867,43, quantia esta correspondente
à primeira tomada de ações, donativos e empréstimos feitos.
O
capítulo II trata das atribuições da diretoria, constituída de 5 membros
eleitos de 2 em 2 anos. A Assembléia Geral ordinária deveria reunir-se
anualmente no 2.o domingo do mês de fevereiro.
Art.
31 — No colégio se receberão alunos internos, pensionistas, meio
pensionistas e externos, mediante as taxas e pensões que foram marcadas pela
diretoria. O colégio poderá receber alunos gratuitamente, sendo pobres, a juízo
da diretoria. No caso de dissolução da Sociedade, ficará o patrimônio
pertencendo à municipalidade de Campinas, para fins exclusivamente da instrução.
Ocorreu
a 6 de novembro de 1884 o falecimento do prestante cidadão, Joaquim Bonifácio
de Amaral (Visconde de Indaiatuba) — o realizador da nobre iniciativa ideada
por seu cunhado Antônio Pompeu de Camargo. Era uma individualidade que reunia a
uma energia máscula grande distinção de maneiras e moral inflexível. Foi
chefe do partido liberal, abastado e inteligente agricultor em Campinas, onde
introduziu o braço livre a partir de 1852.
Em
6 de abril de 1885 reabriram-se as aulas do instituto campineiro, tendo sido
muito auspicioso o resultado obtido pelos alunos em exames de diversas matérias,
e prestados entre os meses de
fevereiro e março desse ano, perante o curso anexo à Faculdade de Direito de
S. Paulo. Fizeram-se 32 exames com 27 aprovações, o que era uma comprovação
dos bons métodos de ensino e do valor do corpo docente.
Conquistaram
os primeiros lugares nesses exames os alunos Bento Bueno, Miguel Penteado, Elpídio
de Queirós, Carlos Viana, Joaquim de Almeida, Antônio de Morais, Manuel de
Castro
e Alberto Sarmento.
No
dia 2 de dezembro de 1885 deixou a direção do colégio, para cujo nome não
media sacrifícios, o dr. Amador Florence, que continuou a residir em Campinas,
de cuja Câmara Municipal era o presidente. Assumiram interinamente a direção
do estabelecimento de ensino os professores J.P. de Ulhoa e Luís Drouet, até
que em 21 desse mês veio ocupar o cargo do diretor o dr. Jorge de Miranda,
homem de grande descortino e que já havia prestado bons serviços ao Culto à
Ciência.
O
dr. Jorge de Miranda era advogado de banca rendosa; deixou a advocacia
para dedicar-se à causa da instrução. A acertada orientação que desde o início
soube imprimir à casa de ensino, produziu os melhores resultados, tendo
aumentado em alguns meses o número
de alunos de 25 para mais de 60.
Com
o conseqüente acréscimo da receita, a situação financeira do
estabelecimento, que foi quase sempre precária, tendia a normalizar-se. A pensão
anual era de Cr $400,00 e a jóia de entrada (dispensada para os alunos de fora
da então Província) era de cinqüenta cruzeiros.
No
mês de julho reuniu-se ao corpo docente o cônego Cipião Ferreira Goulart
Junqueira, para ministrar as aulas de catecismo, matéria esta que fazia parte
do programa adotado pelo colégio.
A
fim de despertar o estímulo entre os alunos, continuou a ser publicado na
imprensa local o boletim contendo a relação nominal dos alunos que obtinham
notas ótimas em suas lições e dos que não haviam comparecido às aulas.
No
começo do ano letivo de 1886 os alunos fundaram uma associação literária
denominada “Clube Jorge de Miranda”, cuja diretoria era: Joaquim Cândido de
Oliveira — presidente; Alfredo de Campos Salles — vice-presidente; Luís
Quirino dos Santos Jr. — secretário; Rafael Sampaio Vidal — orador; .Antônio
Gonçalves — tesoureiro.
No
dia 7 de setembro, os alunos dessa associação promoveram a solene inauguração
da novel agremiação estudantina. A frente do estabelecimento achava-se
artisticamente ornamentada, apresentando belo aspeto. Realizou-se uma sessão
literária presidida pelo diretor dr. Jorge de Miranda, ladeado pelo secretário
Plauto Barreto e pelo orador Rafael Sampaio Vidal.
Aberta
a sessão pelo presidente, os alunos cantaram com muito entusiasmo um hino,
letra do falecido poeta e jornalista dr. Francisco Quirino dos Santos e música
do maestro Azarias. Além do diretor, produziram vibrantes discursos os alunos
Rafael Sampaio Vidal, José Joaquim Monteiro, João Coutinho, Múcio Pompeu,
Joaquim Cândido e o menino Artur Barbosa.
O
aluno Lafaiete Egídio de Sousa Camargo fez uma saudação ao diretor, relatando
seu aproveitamento nos estudos; Lotário Pinto frisou com precisão a incúria
que então havia sobre a instrução, e Bernardo de Sousa Campos discorreu
sobre o mesmo assunto com grande firmeza de idéias. Após a sessão houve um
animado baile que se prolongou até a madrugada.
Em
28 de outubro de 1886 o monarca D. Pedro II, que se achava em Campinas, fez uma
visita ao Colégio Culto à Ciência, colhendo excelente impressão de tudo que
observou e louvando o corpo docente pelo aproveitamento verificado entre
diversos alunos por ele argüidos em diversas matérias. O colégio era então
freqüentado por 130 alunos entre internos e externos, dos quais 30 eram
gratuitos. Havia o imposto municipal de Cr$ 0,01 (dez réis) sobre açougues,
o qual revertia em beneficio dessa casa de ensino.
Nos
exames prestados perante o curso anexo à Faculdade de Direito da capital, nos
primeiros dias do mês de dezembro, foram aprovados os seguintes alunos: José
Joaquim Monteiro, Alfredo de Campos Salles, João Coutinho, Gabriel Oliveira,
Augusto Lamaneres, Joaquim Almeida Luis Branco, Rafael Sampaio Vidal, Luís
Quirino dos Santos Jr., Joaquim Alves de Almeida Sales, tendo concluído os
preparatórios o aluno Abelardo Cerqueira.
Na
segunda quinzena de outubro de 1887 o diretor dr. Jorge de Miranda enviou uma
circular aos pais dos alunos, comunicando que nos dias 30 desse mês e 1.o de
novembro haveria no colégio provas de habilitação para os alunos que
pretendiam fazer exames de preparatórios em São Paulo, e que somente os que
fossem aprovados naquelas provas teriam atestado do colégio. As bancas de
exames de habilitação realizados no Culto à Ciência eram constituídas dos
professores dr. Estevão de Almeida, Henrique de Barcelos, Miguel Alves Feitosa,
José Peters, Horácio Scrosoppi, revdo. Eduardo Lane, dr. Amador Florence,
dr. José de Campos e alguns outros. Os exames foram de português, francês,
inglês, latim, geografia, história, aritmética e geometria, tendo havido 18
aprovações com distinção e 23 plenamente.
Nos
dias 28 e 29 de novembro realizaram-se os exames de promoção. Do curso primário
passaram para o intermediário os alunos: João Paulino da Costa, José
Francisco da Costa, Celso Pompeu do Amaral, Raul Branco, João Carvalho,
Euclides Cintra e Fausto Azevedo. Para o curso secundário foram promovidos 41
alunos. Findos os exames, foi servido aos alunos um lauto jantar, em que foram
feitos diversos brindes dos alunos ao diretor do colégio e aos professores, a
que respondeu agradecendo o dr. Jorge de Miranda. A tarde houve exercícios e
corridas, e em seguida a distribuição de prêmios: aos alunos que mais se
haviam distinguido nos exames, finalizando tudo com um concerto musical sob a
direção do proveto professor dr.
Ferreira Pena.
Foi
ótimo o resultado geral dos exames prestados na capital, em dezembro de 1887,
porquanto não houve nenhuma reprovação. Distinguiram-se nesses exames pela
quantidade de matérias a que se submeteram os alunos Domingos Guaicuru Sampaio
Ferraz, Carlos Alberto Viana, João César Bueno Bierrenbach, João C. de
Andrade Lima, Mariano de Almeida Leite e Silva, Mário de Morais Sales,
Armando dos Santos Dias, Alfredo de Campos Salles, Vergniaud Neger, Luís Quirino
dos Santos Jr. e Eduardo P. Westin, sendo que estes dois últimos concluíram o
curso de preparatórios.
A
situação financeira do colégio continuava precária, pelo que o Governo
Provincial mandou entregar à direção a verba de cinco mil cruzeiros como
auxilio. Durante o ano circulou o periódico mensal “Culto à Ciência”, órgão
da agremiação dos alunos.
No
último dia do mês de outubro, encerraram-se as provas de habilitação dos
candidatos a exames parcelados em S. Paulo, que constavam de 11 matérias,
conforme regulamento então em vigor. Em sinal de reconhecimento para com seus
mestres, os alunos ofertaram valiosos objetos de escritório aos professores
drs. Pupo e Lacerda.
Os
exames de promoção efetuaram-se nos dias 29 e 30 de novembro desse ano de
1888, sendo a banca examinadora composta dos professores Manuel Jansênio
Tolentino, Abelardo Cerqueira e dr. Brás Arruda. O presidente do Conselho
Municipal de instrução pública, dr. João de Castro Prado, assistiu a essas
provas, em que os alunos revelaram muito adiantamento.. Foram promovidos 20
alunos para o curso secundário e 14 para o intermediário.
Nos
exames realizados no curso anexo a Faculdade de Direito de São Paulo, foram,
entre outros, aprovados os seguintes alunos: Otacílio Caiubí, João Batista
Barbosa Ferraz, João Paulo Pinto, Eliseu de Queirós Teles, Herculano de
Andrade Couto, Antônio Barbosa Ferraz Neto, João Cesar B. Bierrenbach, João
Coutinho de Lima, Domingos Guaicuru de Sampaio Ferraz, Luís Branco, Sócrates
Fernandes de Oliveira, J. Paulino Pinto, João Quevedo e José Batista Coelho.
Em
conseqüência de pertinaz moléstia em pessoa da família, o dr. Jorge do
Miranda, que desde 21 de dezembro de 1885 vinha exercendo sabiamente e com
extrema dedicação o cargo de diretor, apresentou seu pedido de demissão,
sendo substituído pelo conceituado educador professor Hipólito Gustavo Pujol,
que assumiu o posto em 18 de dezembro de 1888.
O
novo diretor já contava com um longo tirocínio na direção de
estabelecimentos de ensino, e possuía conhecimentos especializados de pedagogia
moderna. Logo de início, sugeriu à diretoria da associação o plano de serem
ministradas noções gerais de agronomia, com aplicações práticas, aos alunos
que não pretendiam seguir os cursos superiores; contava para este fim com a
valiosa colaboração do dr. Francisco O. Dafert, diretor da Estação Agronômica,
hoje Instituto Agronômico do
Estado.
O professor Hipólito Pujol tratou logo da reforma dos estatutos que foram publicados em data de 21 de Dezembro contendo o plano geral de educação moral, física e intelectual que seria adotado no estabelecimento, a seriação dos cursos que abrangia um curso de conhecimentos práticos e outro acessório.
Pouco
tempo depois, em 29 de janeiro de 1889, era nomeada pela diretoria da Associação
uma comissão composta dos drs. Tomás Alves, José de Campos Novais e capitão
Francisco Alves de Almeida Sales para acompanhar durante o ano letivo o
progresso dos alunos, cooperando com o corpo docente para maior eficiência do
ensino.
Quando
tudo denotava que o Colégio Culto à Ciência ia entrar em uma fase de franca
prosperidade, eis que surge em Campinas a maior desgraça que flagelou a cidade
— a febre amarela.
Era
então crença geral que essa terrível moléstia não subiria a serra de
Santos; assim, quando a 23 de fevereiro de 1889 apareceu o primeiro caso da
febre amarela, ninguém deu crédito, salvo o médico denunciante dr. Eduardo
Guimarães.
Em
pouco tempo o mal alastrou-se pela cidade, paralisando quase todas as
atividades; o Colégio Culto à Ciência poucos dias após a abertura dos
cursos, com 115 alunos matriculados, foi obrigado a suspender as aulas no dia 9
de março, quando a pavorosa epidemia já grassava impiedosamente.
Cogitou-se
em princípio de maio de fazer a transferência temporária do colégio para
Jundiaí, o que não se conseguiu: suas portas conservaram-se fechadas por
longos meses, reabrindo-se as aulas somente em 1.o de julho.
Apesar
de um ano letivo tão precário, os alunos habilitaram-se aos exames finais de
preparatórios, graças ao devotamento do corpo docente, assim constituído:
português — Alfredo Pujol; francês e latim — o diretor; aritmética e
geometria dr. João Brás de O. Arruda; inglês — dr. Diogo Pupo. Alcançaram
as melhores notas nesses exames, prestados em dezembro perante a Academia de São
Paulo, os seguintes alunos: Salvador Franco Bueno, Edgard Egídio de Sousa, Jose
Correia Pacheco, João Quevedo, Cassiano Noronha Gonzaga, Alberto Sarmento, Luís
Branco, Olímpio Soares Caiubí, José W. Tompson Junior, Aristides Sales,
Manuel de Costa Carvalho, José Bayeux, Plutarco Soares Caiubí, Mauro Álvaro
de Sousa Camargo e alguns outros.
As aulas do ano letivo de 1890 tiveram início a 15 de janeiro, com 76 alunos matriculados; mas em virtude dos boatos que se propalavam de casos de febre amarela na cidade, os alunos começaram a retirar-se do colégio, pelo que o diretor Hipólito O. Pujol resolveu em 15 de fevereiro suspender as aulas até que cessasse o terror que se apoderava da população da cidade.
A
direção do colégio envidou todos os esforços no sentido de transferir os
alunos para uma fazenda do município, nada conseguindo. O estabelecimento de
ensino conservou-se fechado até o dia 9 de junho, quando foram reabertas as
aulas, continuando reservados os lugares dos alunos gratuitos comprovadamente
pobres.
O
diretor, em edital que saiu publicado em 15 de junho, prevenia aos interessados
que em dezembro não haveria férias escolares, sendo dadas as aulas sem
interrupção.
Nos
exames de preparatórios prestados na capital, nas duas épocas correspondentes
aos meses de julho e novembro de 1890, obtiveram a nota plenamente os alunos:
Alberto Sarmento, Avelino Duarte de Resende, Barnave Néger, Ernesto Gustavo
Correia,
José Teodoro Bayeux e René Hertz. Em resumo, houve 39 aprovações e apenas 2
reprovações.
O
resultado dos exames excedeu a expectativa, porquanto, forçado pela
segunda epidemia que assolou a cidade, o colégio se conservara fechado durante
6 meses, reduzindo-se o ano letivo a apenas 5 meses. Com uma freqüência muito
reduzida de alunos, o Culto à Ciência apresentou nessas aprovações uma eloqüente
prova de aplicação de seus alunos e da dedicação de seu corpo docente.
Terminaram
os preparatórios os alunos Alberto Sarmento, João Coutinho de Lima e Alfredo
de Almeida Resende.
O
corpo docente do colégio era o seguinte: português — dr. Alfredo
Pujol e Hipólito Pujol; francês, latim, geometria e história — Hipólito
Pujol; inglês — dr. Diogo Pupo; aritmética e geometria — Rocha Fragoso e
Hipólito Pujol; filosofia e retórica — dr. Alfredo Pujol. Continuava na direção
o professor Hipólito G. Pujol, que a uma variada cultura aliava grande tino
administrativo.
No
fim do ano de 1890 passara o colégio por uma reforma baseada sobre o novo plano
de ensino, estando anunciada a abertura das aulas a 10 de janeiro de 1891 para
os internos, e a 15 do mesmo mês para os externos.
Logo
ao início das aulas, o dr. Diogo Pupo, que vinha regendo proficientemente a
cadeira de inglês, foi coagido por motivos particulares, a exonerar-se, sendo
substituído pelo professor Artur Gosling.
Em
junho achavam-se matriculados nos diversos cursos 85 alunos, mas já no mês de
agosto esse número ascendia a 109. Dentre os professores, 5 residiam no
estabelecimento e cooperavam para a boa disciplina. Achavam-se funcionando
regularmente todos os cursos, inclusive as aulas de moral, direito Público,
imigração e colonização.
Além
de alguns outros, obtiveram nota ótima na primeira semana de agosto desse ano
de 1891, os seguintes alunos, quase todos campineiros: Druzo Pompeu do Amaral,
Heitor Teixeira Penteado, Fernão Pompeu de Camargo, José de Freitas
Guimarães,
Clóvis Egídio de Sousa Aranha, Osvaldo Álvaro Bueno, Paulo Branco, Ernesto
Pujol, Gelásio Pimenta, Otaviano Franco e Celso de Morais Sales.
Apesar
dos danosos efeitos das duas epidemias, o colégio encontrava-se em situação
auspiciosa, graças principalmente aos esforços de seu diretor, professor Hipólito
G. Pujol. A fim de proceder à eleição da nova diretoria da Associação, bem
como aprovar as contas apresentadas pelo diretor do colégio, foi convocada pelo
diretor José de França Camargo uma Assembléia Geral de acionistas, que se
realizou no salão do Júri no dia 23 de agosto de 1891. Os membros que compunham
a antiga diretoria não compareceram a esta assembléia; apenas o cidadão
Francisco Glicério Cerqueira Leite fez-se representar por seu procurador, o dr.
Antônio Álvares Lobo.
A
sessão foi presidida por Bento Quirino dos Santos, servindo de secretários o
dr. Antônio Álvares Lobo e Antônio Lapa. Apurada a eleição da nova diretoria
da Associação, verificou-se o seguinte resultado: Presidente — Francisco
Glicério de Cerqueira Leite; tesoureiro — José Joaquim Duarte de Resende;
secretário — dr. Francisco Augusto Pereira Lima; diretores — dr. Luís Silvério
Alves Cruz e Cândido Álvaro do Sousa Camargo.
Do
relatório apresentado pelo diretor do colégio, professor Hipólito G. Pujol,
constava que foram matriculados 116 alunos durante o ano, havendo freqüentado
as aulas 100 alunos, dos quais 22 recebiam ensino gratuito e destes eram
internos 7 alunos.
O
estado financeiro acusava um pequeno déficit, não obstante o professor Pujol
haver conseguido, durante a sua zelosa administração, pagar dívidas antigas
do estabelecimento na importância de Cr$ 23.888,10.
Em agosto desse ano de 1891, os alunos fundaram o “Clube Literário Culto à Ciência”, cujo objetivo era manter uma pequena biblioteca e publicar o jornal “Culto à Ciência” para estimular o gosto literário entre os associados. A diretoria dessa agremiação estudantina tinha como presidente José de Freitas Guimarães; vice-presidente, Floriano Novais; 1.o e 2.e secretários: Ernesto Pujol e Aristides Barreto; tesoureiro, João Tompson Jr.; procurador, Inácio Mesquita ; bibliotecário — Davi Novais. Para oradores foram indicados o presidente e o 1.o secretário.
Em
setembro de 1891 freqüentavam o colégio 102 alunos, destacando-se entre os
mais aplicados o aluno Fernando Bueno, com apenas 9 anos de idade. No fim desse
ano letivo fizeram-se 69 inscrições para os exames parcelados de diversas matérias,
perante as bancas de São Paulo, conquistando as melhores notas os seguintes
alunos: Aristides Barreto, Alfredo Maurício, Jorge de Morais Barros, Floriano
Novais de Camargo Andrade, Bruno dos Santos, Ferdinando Silva, Júlio Brandão
de Magalhães, José Teodoro Bayeux, José de Freitas Guimarães, João de
Oliveira, Ernesto Gustavo Pujol e Bento Pio Bittencourt. O resultado geral dos
exames não desmereceu do conceito que gozava o corpo docente do
estabelecimento, tendo sido inabilitados nas provas escritas apenas 4 alunos e não
havendo nenhuma reprovação na oral.
O
curso primário achava-se dividido em dois graus: o 1 .o grau compreendia
os alunos de 8 a 10 anos de idade, sob a direção do professor Tomás Lessa; o
2.o grau, os de idade superior a 10 anos, a cargo do professor Ernesto Justo da
Silva. Constituíam o corpo docente do curso secundário o diretor Hipólito
Gustavo Pujol e os professores dr. Lima Côrtes, Luís Branco, Luís Felipe da
Rosa, dr. Bogumil Martholomey, Foot e Henrique Potel.
A
abertura das aulas do novo ano letivo de 1892 foi marcada para o dia 12 de
janeiro; entretanto, pela 3.a vez caiu sobre Campinas o terrível flagelo da
febre amarela, esparramando a morte e a desolação entre seus habitantes. A
epidemia perdurou até princípio de junho, quando a comissão médica a
considerou extinta. Foi então anunciada a reabertura dos cursos em diversos
estabelecimentos de ensino da cidade, sem figurar o Colégio Culto à Ciência.
O
educandário campineiro atravessaria então uma situação de séria
dificuldade, de que a parte financeira seria a mais grave. A febre amarela não
se limitara a levar à morte inúmeros habitantes da cidade, mas lhe fizera ruir
as colunas mestras do trabalho e da atividade. E o Colégio Culto à Ciência,
que agremiava a flor da mocidade campineira, não podia escapar a essa
fatalidade.
O
secretário da diretoria, dr. Francisco Augusto Pereira Lima, publicou em
29 de junho, na Gazeta de Campinas, uma convocação de todos que faziam parte
da Associação para uma assembléia no dia 4 de junho, no Clube Campineiro, a
qual não se realizou.
Alguns dias após, o diretor do colégio, professor Hipólito Pujol, avisava pela imprensa que as aulas se reabririam a 11 de julho, segunda feira, sem conseguir resultado animador. Propalou-se mesmo pela cidade, em setembro desse ano de 1892, que o “Culto à Ciência”, passaria a denominar-se — “Ginásio Nacional”, com caráter oficial.
Não
se realizando a assembléia convocada para o dia 17, foi feita a terceira e última
convocação para o dia 24, ao maio dia, no Paço da Câmara Municipal, a fim de
ser deliberado o mesmo assunto constante nas anteriores convocações.
No
dia marcado, realizou-se a última assembléia geral de acionistas da Associação
Culto à Ciência, havendo comparecido pequeno número de pessoas. O dr. Pereira
Lima leu um relatório em que ressalvava sua responsabilidade sobre a extinção
do estabelecimento que tantos benefícios havia prestado à mocidade estudiosa,
opinando pela sua continuação, não como internato mas como externato. Este
alvitre não foi aceito, porquanto não resolveria a grave situação financeira
do estabelecimento.
O
presidente da Associação “Culto à Ciência” general Francisco Glicério,
oficiou em principio de janeiro de 1893 à Corporação Municipal, comunicando o
que havia sido deliberado em assembléia no dia 24 de dezembro, bem como
solicitando as necessárias providências para a posse imediata do patrimônio.
E
assim se encerrou a primeira fase do Colégio “Culto à Ciência”, onde
formaram a sua mentalidade tantas figuras que se destacaram nas ciências, nas
artes, no jornalismo, na política, na magistratura, honrando sobremaneira as
tradições daquele instituto, iniciativa esplêndida dos velhos campineiros
que, sem a menor preocupação de lucro, não tiveram meças de sacrifício para
fundar um estabelecimento modelar de ensino e educação.
© Carlos Francisco Paula Neto - última atualização em
21/09/2018
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