Meu nome é Carlos Francisco de Paula Neto. Nasci em Campinas em 1947 e ingressei no Culto à Ciência em 1959, pelas mãos de meu avô, o professor Carlos Francisco de Paula, do qual herdei o nome, mas não o gosto pela Matemática. Tinha sido ele um dos grandes mestres da escola, compartilhando a presença com nomes famosos como Perez Y Marin, Benedito Sampaio, Aníbal Freitas e tantos outros que conhecíamos pelas placas que identificavam as salas de aula. Na época, recém-saído do grupo escolar, ainda de calças curtas, estranhei o ambiente. Peguei “de cara” o uniforme de calças cinza, camisa branca de manga comprida, colarinho fechado, e aquele calor terrível das salas do porão, aquele corredor de baixo, nos fundos da escola. As meninas e meninos eram isolados, recreios separados, e as salas não eram mistas. O doutor Telêmaco e dona Celina Duarte passeavam pela escola e garantiam com sua presença o cumprimento da disciplina, auxiliados pelas inspetoras: a dona Gladys, com seu jeitão de governanta e seus gritos retumbantes, e o oposto, na figura da dona Celina Mesquita. Mas assim mesmo, havia as bombas de S. João, que estouravam nos banheiros, ecoando pelos corredores silenciosos das horas de aula; os famosos “barbantinhos”, queimados nas salas, nos intervalos. Os desenhos e frases obscenas espalhadas pelas paredes e portas do banheiro. Grandes recordações e grandes mestres... Certa vez, o professor Amaury Fratini, que tinha sido aluno de meu avô, me disse na sala de aula: “De Paula, (como eu era chamado lá), o senhor não honra o nome de seu avô !” isto após ter me dado um zero numa de suas provas... Meu maior carinho e admiração ia para o professor Hilton Federici, a saudosa Lícia Pettine, a delicada e educada Zilda Kaplan, a querida Mariinha (Canto Orfeônico), dona Eclair Farah e o Pedrinho, todos eles chamados por nós só pelos nomes, mas entre as rodinhas de alunos, as vezes, pelos apelidos... Quem não se lembra deles? Alguns carinhosos, outros maldosos... Velho e combalido Culto à Ciência... Como fiquei magoado quando estive lá há uns dois anos, e o vi decadente, quase desmoronando... Pensei, será que agüenta mais 100 anos? Enfim, lá se vão quase 40 anos, e muita coisa mudou. Só não mudou o sentimento que tenho por aquela casa e pelas pessoas que lá me ensinaram quase tudo que sei... Parabéns pelos 125 anos... Que bom seria se voltasse a ser como era naqueles anos 60... Quem sabe? Carlos Francisco de Paula Neto  

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